Dreams are renewable. No matter what our age or condition, there are still untapped possibilities within us and new beauty waiting to be born.

-Dale Turner-

domingo, 28 de novembro de 2010

Sobre lâmpadas e sóis.

“ para vermos o azul olhamos para o céu. A terra é azul para quem a olha do céu. Azul será uma cor em si, ou uma questão de distância? Ou uma questão de grande nostalgia? O inalcançável é sempre azul.” Clarice Lispector

“I dont want to be the girl who has to fill the silence. The quiet scares me cause it screams the truth”. Pink.

Desligou o sentir. Havia desistido, há muito, da pálida ilusão que é o amor, daquela mísera áurea vagamente luminosa e absolutamente insatisfatória. E, só agora, no entanto, havia se dado conta de que, provavelmente, era melhor desligar o interruptor da luz que ele não mais usava há já tanto tempo. A conta podia vir cara. Tanto que ele havia acreditado num sentimento grandioso, movedor de montanhas; num sol poderoso; em estupendas explosões de bombas de hidrogênio potentes para iluminar galáxias inteiras de amantes. Tanto que ele havia acreditado, tão grande fora sua queda na descoberta da “verdade”. Descobriu, a custo de muita dor, que haviam luzes de força muito maior. Descobriu que embora o amor prometesse tanto, era tudo uma questão de perspectiva. O amor, uma vez que não esteja mais sozinho, e sim, como está na realidade, rodeado de interesses e sentimentos, não passa de uma mísera lâmpada incandescente em meio a uma Times Square de néons sentimentais. Em perspectiva o amor é luz obsoleta.

Desligou, portanto, o sentir. Abriu o circuito para que a energia já não completasse seu ciclo doentio de dor e desilusão. O hábito tornou-se seu mestre. Viveu sem sentir, pilotado automaticamente, num robótico frenesi de repetições cotidianas. Suas quedas, o hábito amorteceu, é bem verdade. Só não lhe ocorrera que não sentir implicava também em perder a vantagem da dor como aviso e sintoma. A dor do despedaçador estrepar-se no chão pós-queda; a dor de alma queimada na fogueira; essa dor era sempre anúncio oportuno de perigo, a dor que delatava a doença, a dor providencia dos enfermos, apaixonados. Agora vivia sereno, é claro, mas em constante perigo de vida. Podia estar morrendo sem saber ou, pior, podia estar, no breu do inconsciente, no sujo dos covis secretos da alma, completa e perdidamente apaixonado. Mas não! Protestava o grande teatro interno de sua consciência, querendo convencer a todo custo da inexistência do sentir. Inadmissível, insuportável, inapropriado e, ainda, desesperadamente desejado esse tal de amor.

E aí está. Tudo ruíra. Está tudo posto a baixo. Admitira a si próprio o desejo pelo sentir, condição imediatamente destruidora do estado anestésico que tanto lutara para construir. E é por isso que o não sentir duela consigo próprio, é seu maior apego e maior rivalidade. É seu próprio arquiinimigo, é o maior risco e o maior traidor de si mesmo. Uma vez cessados os gritos do amor, uma vez ele vencido, é preciso cuidado, um cuidado que o rapaz não tivera. É que o calar do sentimento, tão avidamente procurado, assusta justamente porque o silêncio sempre grita a verdade. Ele está sempre a plenos pulmões na muda, ensurdecedora tentativa de não nos deixar esquecer as verdades que tão cuidadosamente escondemos de nós.

E, fantasias anestésicas postas por terra, o rapaz está livre para se permitir encher de esperança novamente. Não que ele tivesse escolha, não que agora ele não estivesse em risco permanente de vida. Não que agora felicidade e medo não tivessem se unido num matrimônio escandaloso para tornar o seu cotidiano pura emoção e risco. Não que agora, mais uma vez, seu oxigênio não fosse o não respirar, que vácuo permanente em seus pulmões não fosse a maior das alegrias na sua busca frenética pelo ser amado. Porque isso tudo era verdade. Amor, e disso o rapaz sempre soubera, é suicidar-se continuamente, é pousar a mão deliberadamente sobre o nariz e extinguir a passagem de ar, é sentir-se assim, desmaiar já sem fôlego restante e acordar já numa outra vida, de outras sensações. É que, quando um mísero silêncio, rompe com sua própria natureza muda e se faz ouvir no meio das tantas sinfonias ensurdecedoras, pra gritar um amor qualquer, você sabe que também um simples ligar de interruptor pode fazer uma mísera lâmpada incandescente brilhar mais que os dez mil sóis de uma galáxia.

5 comentários:

Anônimo disse...

eu adorei!
Pedro F. :D

João Victor disse...

A tua luz das grandes ideias não tem interruptor que apague.

Arnaldo Vieira disse...

Muito bom, cara!
O legal foi ler e ficar olhando o astronauta o tempo todo. É ele o cara do texto...hehe
Vou ficar acompanhando teus textos... =)

Dandara disse...

'imoraes' as tuas palavras que descobrem tudo de cada um que lê. Por favor, nunca pare de amar, e de nos inundar de poesia! te amo :*

Mariana Viana disse...

Cara Lucas você sabe que sou sua fã, se não sabe, tá sabendo.E esse texto foi foda.Adorei,
principalmente o final:
"Amor, e disso o rapaz sempre soubera, é suicidar-se continuamente, é pousar a mão deliberadamente sobre o nariz e extinguir a passagem de ar, é sentir-se assim, desmaiar já sem fôlego restante e acordar já numa outra vida, de outras sensações."
Muito bom mesmo!