Dreams are renewable. No matter what our age or condition, there are still untapped possibilities within us and new beauty waiting to be born.

-Dale Turner-

sábado, 16 de julho de 2011

O novo preto.

O novo preto.
Masoquismo emocional. É sim, eu sempre fui Hitler de mim. Sempre achei linda a melancolia do preto e branco das minhas fotos. Eu, sempre rodeado por uma multidão de solidões.  Todo tipo, tamanho e índole contemplado em minha miscigenação emocional particular. Devo admitir o reconforto do quê poético delas. Não posso mentir que faço, também, jornalismo marrom de mim.  O engraçado de não viver o que se vive é que você se descobre um mentiroso muito melhor do que você esperava. Pior, eu fui estúpido suficiente para acreditar em mim. Sem cessar. Afinal, quem imaginaria que ainda haveria mais algum mentiroso em meu caminho. Apenas, o maior de todos. O mais intímo e, ainda, o mais misterioso. Apenas, eu.
Foi quando minha cabana virou babel. Quando meus segundos eram dias. Quando a lágrima era mesmo o cisco. Quando as vidas em cristal líquido eram as minhas muitas. Quando eu chamei “destino” o livro bonito que eu li. Quando deixei os olhos entreabertos ao pular do precipício. Quando o precipício era uma mureta. Foi quando me traí.
A Descoberta era poderosa demais para mim.  Descobri que o que eu tinha de melhor era a representação. Era saber imitar. Ser quase igual, porém com a superficialidade inexorável de toda cópia vagabunda que se preze. Por algum tempo me contentei. Por algum tempo o apenas parecer que foi um ser satisfatório. Quase ideal. Jogar esse jogo de fingir foi realmente divertido. O único problema é o risco de esquecer que quem está jogando é você. E ninguém mais. Eu esqueci. Esqueci que embora eu estivesse jogando, o jogo não era jogo. Era só, e somente só, vida. Caí, por isso e, hoje, fui esquecido. Corro, então, para fazer virar esse tarde demais num, ao menos, em cima da hora. Corro para alcançar aquele que era eu, o eu mesmo, o eu de verdade. No agora, eu fechei meus livros. Desliguei a música. Olhos e ouvidos, por via das dúvidas. Deixei-me para mim e é só. Brincar de fogo machuca e, acredite, não é algo suportável. Matei todos os personagens e resolvi interpretar o que é meu, de fato. Não sou muito bom nele, me soa artificial falar com a minha própria voz e usar essas palavras que eu mesmo invento. Mas acho que é pra ser assim mesmo.
Hoje não viro mesas. Não quebro barracos e nem faço sujeira pra esconder no tapete. Antes, faxina. Antes, restauro. Dever de cuidado. É um alívio, na maior parte. Na menor, é cansativo mas eu me atrofiei como intérprete de mim e preciso disso. Melhor parar de falar, antes que as palavras me seduzam de novo rumo ao não ser, ao parecer. Vou mesmo é virar esses tapetes  e pôr a mostra toda essa sujeira. Sim, eu vou revirar os tapetes, impregnar o mundo com a verdade encerrada nessa sujeira, porque antes verdade suja que a limpeza ascética e artificial da mentira. Pintar o mundo nas cores da verdade suja. Branco-mentira é last season e marrom, bem, marrom-sujeira é o novo preto. Sabe como é, sujar faz bem.