tag:blogger.com,1999:blog-29389245462465444932024-03-13T01:03:56.238-03:00Not all those who wander are lost.inimigo do bom gosto e do bom senso.Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.comBlogger31125tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-90099424398153055492013-04-01T17:57:00.002-03:002013-04-01T17:57:23.153-03:00Odeio-te<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-PZOLmm03mks/UVnzB5QrXVI/AAAAAAAAAIc/fJdEP1tkBKE/s1600/tumblr_m5m07tZKj61qgdcwao1_500.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="136" src="http://4.bp.blogspot.com/-PZOLmm03mks/UVnzB5QrXVI/AAAAAAAAAIc/fJdEP1tkBKE/s320/tumblr_m5m07tZKj61qgdcwao1_500.gif" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-x7HK_xV6VWU/UVnzCdh1WFI/AAAAAAAAAIk/5QMaXLPSa9g/s1600/tumblr_m5m07tZKj61qgdcwao2_500.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="277" src="http://1.bp.blogspot.com/-x7HK_xV6VWU/UVnzCdh1WFI/AAAAAAAAAIk/5QMaXLPSa9g/s320/tumblr_m5m07tZKj61qgdcwao2_500.gif" width="320" /></a></div>
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-x7HK_xV6VWU/UVnzCdh1WFI/AAAAAAAAAIk/5QMaXLPSa9g/s1600/tumblr_m5m07tZKj61qgdcwao2_500.gif" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"></a><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Pensa que eu não consigo ouvir os
seus mudos “eu te amo” aonde que quer que eu vá? Pensa que seus lábios fechados
lhe são fiéis? Pois não. Mesmo fechados denunciam-te sempre que abraçam-se aos
meus. Ali, sem palavras, no idioma do corpo, fazem o relato exato do tamanho do
teu amor, aos meus lábios que, agradecidos, abraçam-nos de volta. Eu não sou
idiota e você não me engana. Pensa que eu não identifico seus traços nas cores
que puseste nas flores ao longo dos meus caminhos? Pensa que não sei que tem
dedo seu em cada momento de felicidade, em cada dia colorido? Pensa que não
enxergo os sinais de fumaça no céu da possibilidade que tu gostarias de poder
deixar para mim? Pensa até que não sei da existência dos carros de som imaginários
que, tanto desejaste, pudessem gritar a plenos pulmões o teu amor por mim? Teu
cafona amor por mim. Teu amor estúpido, babaca, meloso. Teu deselegante,
inconveniente, inesperado, desconcertante jeito de amar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Sei de tudo o que planejas. Sei de tudo
o que não tens feito. Não fazes por que não deixo. Mas sei que imaginas.
Imaginas um amanhecer clichê em um quarto de hotel cheio de pétalas de rosas,
seguido de um tépido café da manha. Falta-te escolher a marca da margarina do
comercial. Sei que deseja me mandar estúpidos bombons de chocolate mesmo
sabendo que estou de dieta. Sei tudo sobre os buquês de rosa que potencialmente
compraste para mim em tua mente. Tua diabolicamente romântica mente. Tua mente
desprezível, de tanto que é adorável.<o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-BzmJr-m-hTc/UVny9kuOgOI/AAAAAAAAAIU/mxXEyXDRCds/s1600/tumblr_mbdldmie1K1qld6meo1_500.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="260" src="http://3.bp.blogspot.com/-BzmJr-m-hTc/UVny9kuOgOI/AAAAAAAAAIU/mxXEyXDRCds/s320/tumblr_mbdldmie1K1qld6meo1_500.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Sei de todas as tuas subversivas
loucuras de amor, suspensas num plano teórico, metafísico. Sei dos tiros que
levaste em meu lugar naquele assassinato que nunca aconteceu. Sei que pulaste
da ponte atrás de mim no suicídio de nunca cometi e sei da vida que passaste
sozinho e amargurado, incapaz de jamais amar outro alguém, depois da minha
morte que nunca morri. Sei que andas violando o meu elegante regime de
não-amor. Sei que anda dando propina a meus soldados mantenedores dos bons
costumes. Os costumes do equilíbrio e discrição. Sei que assumiste o papel do
revolucionário na minha vida e tens arrebanhado fiéis em cada pequena parte de
mim. Cada pequena parte, cada uma delas, que me traem continuamente. Cada vez
mais rendidas às tuas palavras doces e ao teu sujo amor verdadeiro. Como vê,
estou consciente de que tens feito de tudo para, traiçoeiramente, sabotar o meu
outrora perfeito e equilibrado regime. Sou ditador de mim e não vou tolerar
suas subversões em meu território.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Com que direito te permitiste
começar a me amar? Desde quando cometeste esta vil traição? Isto não foi o que
combinamos. Era para ser casual. Equilibrado. Era para estar sob o meu
controle. Se tivesses seguido o plano, se não tivesses sido tão odiosamente
perfeito, se tivesse sido grosseiro e egoísta ao menos às vezes, quem sabe as
coisas ainda estariam sobre controle. Não tinhas o direito de me amar como
jamais ninguém fez e assim, bagunçar o meu mundo. Estou de cabeça para baixo e
a culpa é sua. Não sei se jamais conseguirei te perdoar por teres feito isso
comigo. Tudo ia muito bem antes de você. Agora você chegou e está tudo
arruinado. Agora você chegou e eu encontrei o amor verdadeiro. Cedo demais.
Inesperado demais. Por demais sem planejamento. Completamente fora do meu
controle. Tuas palavras doces ganharam cada parte de mim e até a última: eu. O
imediato. O consciente. Aquele que não posso esconder. A camada final e o mais
externo de mim. Não, jamais poderei te perdoar por seres quem és. Jamais te
perdoarei pela tua sublime vilania de trazer beleza à minha vida feia. A feiura
é segura. Na feiura não há grandes amores, nem grandes dores. Só um adorável
marasmo de tédio, leveza e superficialidade. Te odeio por trazer essa
tempestade ao meu plácido oceano. Odeio pela destreza com que conquistaste até
o meu eu mais rabugento. Odeio-te por amar-me no momento meu de maior
ignorância e por, irritantemente, saber todas as vezes em que preciso que
recues, em que preciso estar sozinho. Odeio-te por tua amabilidade enervante e
pela insuportável mania aceitar tudo o que digo. Odeio-te. Odeio o eu te amo
que tens guardado para mim e que tenho, deliberadamente, assassinado em asfixia
sempre que está perto o suficientemente perto da superfície para fazer algum
estrago. Jamais poderei te perdoar por me amar de maneira tão maravilhosa, não
quando me esforcei tanto para que acabasse se afastando. Odeio-te pelo teu
desinteressado e, aparentemente, incondicional amor por mim e, principalmente,
odeio-te por que agora te amo de corpo e alma. E culpa é toda tua. </span></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-jJ2KO568A0s/UVnyrX1He7I/AAAAAAAAAIM/RqRHnlORJzo/s1600/tumblr_ltw2l3CXbY1r0kidno1_400.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://4.bp.blogspot.com/-jJ2KO568A0s/UVnyrX1He7I/AAAAAAAAAIM/RqRHnlORJzo/s320/tumblr_ltw2l3CXbY1r0kidno1_400.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<o:p></o:p><br />
Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-85432625118308884622012-10-15T12:07:00.001-03:002012-10-15T12:07:44.839-03:00Vidro<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://thumbs.dreamstime.com/thumblarge_508/1275153720xRlH20.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="http://thumbs.dreamstime.com/thumblarge_508/1275153720xRlH20.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="text-align: justify;">É tão mais fácil no começo. Leve e
despreocupado. Você salta pelo mar de telhados de vidro à sua frente sem olhar
para baixo. Você só pensa em quão perto das nuvens você está e se esquece do
quão grande você fez a sua possível futura queda. Longe demais do chão. Você é
solto, ágil, feliz, desapegado. Você é leve. Os telhados de vidro são como que
feitos do indestrutível diamante para o seu peso quase inexistente. Inquebráveis.
E, se quebrarem, bom, você não ama o suficiente para que doa de verdade.</span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas então você começa a se
apaixonar pelos telhados. Um a um, você demora cada vez um pouquinho mais para
deixa-los. Era só uma questão de tempo até que algum deles te parasse de vez.
Você olhou para aquele vidro tão belo e translúcido, perfeito em todas as qualidades
que um vidro deve ter. Até os arranhões as lascas tiradas pela intempérie
davam-lhe uma beleza madura, davam-lhe aquele toque sedutor da experiência. Mas
que vidro adorável, você pensou. A perfeita combinação entre o denso e o
rústico. Você ficou mais um dia. E foi ficando. E agora já não te é mais
possível sair. Está ouvindo o vidro trincar? Sim, você finalmente se tornou
pesado demais. Você sabe que deve sair enquanto é tempo. Você sabe que a
tragédia está anunciada. Mas, sem explicação, você resolve ficar. Você não
consegue sair. Aquele vidro é simplesmente lindo demais. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O som do vidro trincando está
ficando cada vez mais alto. Está ouvindo? Eu te avisei. Você vai cair. Agora já
se pode ver os primeiros estilhaços caindo com um estrépito lá embaixo. Milhares
e milhares de quilômetros abaixo. Você nota, agora, o quão alto subiu? Os estilhaços
estão ficado maiores. Meu deus, mais da metade do vidro já se foi. Pule para
fora daqui. Pule para o próximo telhado, ainda dá tempo. Não você não vai. Você
está perdido. Você ainda quer este telhado, ainda que quebrado. Você vai cair.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A última parte do vidro, por fim,
se quebra. E você cai. na velocidade de um meteoro. A gravidade maligna te puxa
para ela, sedenta do seu corpo. Voraz e invencível. Você está caindo. Mas está
apaixonado pela queda. Você é grato por ela. Você esta voltando pro seu vidro,
que te espera lá embaixo. Está voltando pro começo.<o:p></o:p></div>
Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-19678104920260803312012-04-01T21:33:00.000-03:002012-04-01T21:33:01.504-03:00Fome<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Vamos de semana em semana, você disse. Sem pressão, sem infinitos prometidos, sem mundos investidos, sem pesos amarrados nas costas. Perfeito, pensei. Justamente o que eu precisava. Justamente o que eu sempre precisei. O não comprometer, o finito. O não permanente e consequente frescor de infindáveis recomeços. Tudo o que eu precisava para ser o apetite que sempre fui. O permanente, e resolvido, o terminado me assustam. Não tenho fome de nada, porque fome é uma necessidade definida, rotineira, orgânica. O apetite tem a inconstância e indefinição do bom evento psicológico que é. Sim, eu sempre precisei mesmo ser um apetite. O medo em mim de não conseguir abraçar o mundo todo porque perdi tempo acariciando um pequeno detalhe da Criação é maior que o próprio medo da morte. É, em verdade, o próprio medo da morte. A morte para mim não é a morte em si. A morte para mim reside na assustadora possibilidade de que ela me encontre antes que eu tenha conseguido abraçar o mundo inteiro. <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Sim, eu sempre vivi para sustentar meus imensos olhos. Sempre gulosos, sempre insaciáveis, sempre na contramão de minha barriga pequena, limitada, assustadiça, incompetente e temperamental demais para se comprometer com qualquer digestão mais elaborada. Não, digerir sempre foi um aprofundamento impossível para mim e, por isso, me acostumei às indigestões, ao sufoco que meus olhos descomunais e desproporcionais sempre me causaram. <o:p></o:p></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://30.media.tumblr.com/tumblr_lwe0meSgUg1r02cqto1_500.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="262" src="http://30.media.tumblr.com/tumblr_lwe0meSgUg1r02cqto1_500.jpg" width="320" /></a></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">É então que vem você e me propõe alimentar-me às colheradas. Você vem e me propõe pequenas porções de cada vez . Desafia meus irritáveis e impacientes olhos, permitindo apenas pequenos e ocasionais vislumbres do todo. Do magnifico todo que eu ainda estava por conhecer. Você veio com pequenos acordes de uma voz veludada, pouquíssimos e quase silenciosos versos de musicas tímidas. Veio com pequenos sacrifícios, pequenos cavalheirismos. Veio com pequenas noites. Pequenos momentos de presença. Trouxe ingrediente por ingrediente, às vezes microscópicos, e submeteu cada um deles ao meu assustável paladar. E quando, finalmente, senti o carnaval de sabores que aos poucos trouxeste até mim, o apogeu dos sentidos trazido por suas pequenas e singelas porções me pôs de joelhos. De beijo em beijo. De primeira vez em primeira vez. De uma em uma semana Foi assim, que você me fez ver que nem todas as semanas da minha vida vão saciar a fome visceral que despertaste em mim. Eu disse fome, veja bem. O desejo pela rotina de te ter, o desejo pela segurança e confiabilidade da tua presença. Parado ao meu lado, saciando-me regularmente, é como te quero. Sim, isso é fome. O apetite já passou. Dele já não preciso.<o:p></o:p></div>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-91472248323497014072012-01-17T03:31:00.000-03:002012-01-17T03:31:16.944-03:00Sobre seres e pareceres<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://data.whicdn.com/images/15585157/tumblr_ls79i6DhaP1qeq66co1_500_large.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://data.whicdn.com/images/15585157/tumblr_ls79i6DhaP1qeq66co1_500_large.jpg" width="320" /></a></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Não, ele não tem boa sorte. Poucas coisas dão certo pra ele e as mãos em sua vida nada têm de beijadas. Antes, estapeiam-no. Aquele garoto também não tem a menor ideia do que fazer. Colecionador obsessivo de incertezas e um destemido nato na hora de perder a fé. Ele não sorri o tempo todo e sua vida, certamente, não é uma festa. Não vai a tapetes vermelhos, nem é popular. Ele não tem lá muito dinheiro, e também não se importa nenhum pouco com o seu. Aquele garoto também não acha a juventude tão melhor assim e não sabe de onde você tirou que ele um dia quis ser você<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Mas aquele garoto não precisa da sua boa sorte. Ele desdenha da sua pretensa popularidade e não deseja viver agonia da sua felicidade constante e atestada. Ele prefere a segurança do atestado de gente. De ser real. De poder sentir a tristeza livre do pânico. Porque solidão é bom. Solidão é você. Ele deseja, sim, um atestado que não se exibe, um atestado que se é. Silencioso. Particular. Real. Seu. Aquele garoto não tem uma fé inabalável, ele cai, e desiste. Só o que lhe é inabalável é a certeza de que cair significa ter que levantar e começar de novo. Um cair é sempre uma chance para levantar de novo. E, quem sabe, desta vez ele possa levantar sem cair de novo. Um levantar permanente, experiente, sofrido. <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Aquele garoto não precisa da sua atenção. Ele não passa pela vida fazendo desesperados check-in’s, buscando uma celebridade ausente de mérito pra esquecer da ordinariedade que enxerga em si mesmo. Ele chama atenção, mas chama por ser. Com o parecer ele já não está mais tão preocupado. As gargalhadas dele não são as mais altas e o álcool não lhe é terapia. Fala do que é por ser de sua natureza o manifesto. O discurso. O transbordar. A plateia lhe é dispensável. Ele prefere a pessoa.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Não, ele não é do tipo que fala porque precisa ser ouvido. Antes, fala por que quer se ouvir. Quer se sentir real, materializado. Quer sentir-se objetivo, ao menos uma vez. A verdade é que só lhe é possível ser se for sozinho. Sim, no mundo que ele desenhou a solidão e a alforria nasceram do mesmo ventre. Só na solidão é que realmente se é, somente livre do necessário agradar de opiniões é que pode despir-se do que não é. Por melhor ator que ele seja, anda cansado das fantasias quilométricas que carrega. Anda cansado de carnavais espirituais. Anda farto das pessoas que só aturam o feliz. Cansado de todos esses sorrisos pavorosos que já não conseguem mais se desfazer. Uma tragicomédia apavorante em que se prendeu o mundo em que esse garoto vive. A alegria ostentada não o inspira. Assusta. O humor é plástico e vazio por isso o repele. Os destinos, previamente projetados, sufocam. Por isso não se incomode com ele. Deixe-o em paz que para ele já será o suficiente. Ele não é nada como você. Ele é.<o:p></o:p></div>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-45084110629109500382011-12-29T15:45:00.000-03:002011-12-29T15:45:31.984-03:00True Colors<div style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://images.dpchallenge.com/images_challenge/1000-1999/1005/800/Copyrighted_Image_Reuse_Prohibited_772511.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://images.dpchallenge.com/images_challenge/1000-1999/1005/800/Copyrighted_Image_Reuse_Prohibited_772511.jpg" width="320" /></a></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Eles não entendem que eu quero viver em semitons. Não, a palheta de cores da fotografia com a qual escolheram viver é completamente outra. Eu não quero esse amarelo tão obviamente amarelo. Não quero o branco da perfeita harmonia das cores do espectro. <b>Não. </b>Eu quero distorção de um espectro decomposto, desequilibrado. Quero muito azul. Quero azul muito mais que todas as outras cores. E, então, todas as outras cores muito mais do que o azul. Prefiro os gritos eloquentes e eficazes do exagero de uma só cor, do que a modéstia e formalidade da luz branca comum e real que ilumina o equilíbrio rotineiro dos dias que desenharam para mim. <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O desenho está feito. Não há o que se faça. Já traçaram os contornos rígidos e bem definidos entre os quais preciso espremer tudo o que sou. Esqueceram, no entanto, de pintar. E se você quer saber, está será a parte mais divertida. Quem colore sou eu. Tirem daqui seus perfeitos lápis aquarela. Seus rios azuis. Gramados verdes. Telhados vermelhos. Da fotografia de minha vida eu é que sei. Quero mesmo é tinta guache pra viver. Quero pintar com os dedos e fora das linhas. Que as linhas me sirvam tão somente para destacar quão longe fui, e ainda vou, em minha transgressão. Quero que meu céu possa ser verde, se quiser. Quero a liberdade surrealista da verdadeira verdade ainda que a beleza dela não te faça o menor sentido. Vem ver pelos meus olhos! E que o chão possa ser branco, as vezes, para que meus pés sujos marquem o caminho, e que, assim, eu possa sempre me perder em paz, seguro de que minhas pegadas me farão capaz de voltar. Como voltei ontem. Como voltarei amanha. E que um dia também me seja permitido não voltar mais, porque há caminhos que não têm volta, e é assim que precisam ser.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Comprei essa câmera e colei celofane azul na lente. É que me acho distintamente mais bonito em tons de azul. E, ainda que a melanina sem criatividade em mim discorde, se a matiz azul a tornar possível enxergar a beleza em mim, se for azul como eu me sinta, se for azul como eu escolha viver, por que não dizer que a verdade é que sou azul? Quem morreu e deixou para a realidade o papel de <b>O</b> cenário legítimo? Quem escolheu essa entediante fotografia hiper-realista para o filme de mim? Vem ver por essas lentes também. Esteja fora das linhas, querido. Fotografe seus pés cheios de calos, por bizarros que sejam se eles é que contam a tua história. Seja azul. Seja preto e branco. Seja todas as cores e nenhuma, se é o que você precisa ser. Querido, só te peço que estejas certo de que no final do dia você será capaz de se olhar no espelho e reconhecer em você os seus próprios traços de pintor, ou a fotografia que você tirou. Vão te dizer que os traços são feios. Que são imaturos e juvenis. Mas eles, que falam demais, são só uma plateia assustada porque os teus traços originais os ofuscam e abrem os olhos para a covardia dos traços que eles deixaram outros pintarem por eles.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">As tuas cores é que são de verdade. Não porque sejam reais. Mas porque são as que você ama, porque são suas. A cor da verdade não é a que é. É aquela cor que quisemos tanto, que fizemos com que fosse. Meu amor por você tem a sua cor. Sem ela meu amor se perde por não conseguir te encontrar. Seja a sua cor. Para que, então, sejamos nós. <o:p></o:p></div>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-29788549628520067102011-11-10T01:59:00.001-03:002011-11-10T02:04:11.065-03:00O peso<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-Kj92fGXrvXA/TrtZyaaX0jI/AAAAAAAAAHE/gqsde6meqZo/s1600/insustentavel_leveza_ser_02+%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="233" src="http://2.bp.blogspot.com/-Kj92fGXrvXA/TrtZyaaX0jI/AAAAAAAAAHE/gqsde6meqZo/s320/insustentavel_leveza_ser_02+%25281%2529.jpg" width="320" /></a></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Entenda que não me é fácil explicar-me para ti. Eu não me sei. Antes, me suponho. Encontro-me, não dentro de mim, mas em reflexos vagamente familiares cujos vislumbres capto, de passagem, pelas palavras de outros homens, ou nas lentes alheias, na voz de outro alguém. Faço-me, assim – aparentemente porque de nada tenho certeza – em miscelânea de outros. Sou um mosaico do que os homens e mulheres de outro tempo e de agora fizeram de mim, é preciso admitir. E por ser tanta coisa, por isso mesmo é que não sou, em absoluto. Prefiro mudar. Amo/sou o não ser. Porque sempre que se é por tempo demais, termina-se sendo errado. <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Bem acho que pode-se dizer que sou isso que te falei. Alias, que não sou. Sou leve. Mas não se engane pela morfologia atrativa da palavra. Pela sedução dos fonemas simples. Leve não é sempre a grandeza positiva da dualidade. Li uma vez que a dualidade leveza-peso é mais complexa e controversa que qualquer outra contradição apontada por Parmênides*. Para ele, o peso era sempre negativo e a leveza positiva. E fisicamente falando essa é a provável verdade. Mas a física não passa da mentira que nossos olhos nos contam para fazer do mundo algo compreensível para nós e não o sufocador e intragável infinito semântico que ele realmente é. <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Tenho sido leve, é verdade. Transitório. Mutante. Tenho sido muitos e nenhum. Mas tenho corrido riscos inimagináveis. Quem é leve corre o risco de voar alto demais e se perder na imensidão rarefeita da estratosfera. Em asfixia. O que é leve está longe demais do chão. O que é leve não possui densidade. O que é leve está a um passo do semi-real e tão próximo dessa liberdade que tanto prezo quanto da absoluta insignificância. É sedutora a transgressão só pelo transgredir. Pelo mero arregalar dos olhos alheios. Mas o alheio aqui sou eu. Me deixo levar pela euforia memética do festejar incessante da nossa cultura. Estampo o vazio do eterno sorriso em meu rosto porque as pessoas baniram a tristeza e o que quer que lhes lembre do peso que deixaram para trás. <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Mas agora que me sinto tão leve e livre quanto jamais estive é que vejo o quanto preciso de você. Sei que disse que você era uma âncora naufragando a mim e me impedindo de ganhar os mares. Acontece que os navios lembrados pelos séculos afora são os que afundaram. Naufraga-me com teu peso e torna-me um naufrágio verdadeiro e memorável. Estou disposto a afundar se for contigo. Torna-me uma vez denso como o ar frio, que possa descer e ser real, que possa eriçar os teus pelos e te fazer precisar de um abraço que te aqueça. Torna-te o peso antagonista de minha leveza e usa teu corpo para pesar sobre o meu, pois sinto já ser vital te sentir sobre mim.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">A mim continua indecifrável a controversa dualidade entre leveza e peso. Só o que sei é que desisti da leveza, aceitei que o preço da liberdade é exorbitante demais e que quero mesmo é teu peso me prendendo a esses mesmos lençóis, pelo tempo que durar, qualquer que seja o peso da dor. Da (necessária?) dor de amar.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">*Milan Kundera em "A insustentável leveza do ser"</div>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-22520753486023825472011-11-06T23:52:00.000-03:002011-11-06T23:52:06.361-03:00Dúvida<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-FxDtz0a6G0I/TVnQIXr-sfI/AAAAAAAAAL0/4W15ybtDfjQ/s1600/L%25C3%25A1grimas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-FxDtz0a6G0I/TVnQIXr-sfI/AAAAAAAAAL0/4W15ybtDfjQ/s320/L%25C3%25A1grimas.jpg" width="270" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Você pensaria que eu sou um chorão. Que eu sou um melodramático clássico a quem as lágrimas vêm com facilidade. Mas não é verdade. Bem, eu sou, de fato, melodramático. Talvez até mais. Acho que beiro o masoquismo patológico. Mas não eu não choro. Há anos que já não consigo. O engraçado disso, no entanto, é que, se você perguntar a quem quer que tenha convivido o suficiente comigo nos últimos anos, poderá ouvir o testemunho de um número considerável de pessoas que alegarão terem me visto derramar lágrimas por já uma dezena de vezes. Mas aprendi, durante esses anos em que pude viver sozinho nesse mundo, há uma antonímia negligenciada pelos comuns bem aí, entre as lágrimas e o chorar. Derramei lágrimas sim, mas não de dor. Lágrimas pelo hábito. Lágrimas pra me sentir humano, me sentir parte de alguma coisa. Da multidão lacrimosa tão em voga hoje em dia. A lágrima meme. Lagrimas pra me sentir comum, incluído, e ter certeza de que era capaz, ainda, de reagir como homem normal. Enfim, lagrimas fingidas. Não é que eu não tenha sentido dor, veja bem. Experimentei dores nos últimos anos ante as quais me vi partindo ao meio, a ponto de cultivar sérias dúvidas sobre se seria eu capaz de me recompor. Mas quando doeu de verdade as lágrimas não vieram. Dor além das lágrimas. Dor que lágrimas não podiam traduzir. Dor tão grande e independente que esnoba, dispensa a natural subserviência de suas criadas naturais, lágrimas. Transbordo mas não sinto dor, não a minha, pelo menos. Sim, pude chorar de verdade, mas pela arte, pela dor alheia, pelo que não me pertence. A emoção represada em meus olhos não é a minha. A minha dor, a minha gigantesca dor não me comove. Bem que sempre me disseram que tamanho não é documento. A minha dor não é digna da manifestação natural das lágrimas. A minha dor me deixa em dúvida na verdade. Não consigo entender se é ela tão grande que as lágrimas tornam-se um adereço fútil e desnecessário, ou se decepcionei a mim tantas vezes que esta minha dor já não me comove, anda desacreditada, mais irreal que as dores de Hollywood. E, ainda, pergunto-me se as duas coisas não seriam a mesma. <o:p></o:p></div>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-44543244736861039472011-09-08T21:42:00.000-03:002011-09-08T21:42:57.693-03:00Someone Like You<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://www.reidaverdade.com/wp-content/uploads/2011/04/espelho.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="249" src="http://www.reidaverdade.com/wp-content/uploads/2011/04/espelho.jpg" width="320" /></a></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Ouvi dizer que tu sossegaste. Que estás agora feliz com alguém. Ouvi dizer que encontraste justo o que procurava. Disseram-me também que descobriste quão melhor é a verdade. Quão melhor pode ser a integridade de uma pele não-violada em comparação aos cortes que fazias em teus pulsos, lá atrás quando tu precisavas sangrar para saber que vivia. <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Ouvi dizer que o teu alguém quer realmente a ti e somente a ti e que, por isso, mandou aposentar aquela versão editada que tentavas fazer o mundo engolir. Que o mundo agora se entale com toda a indigestão que és tu. Ouvi dizer que o teu alguém não te quer ver chorando; que o teu alguém renuncia a si e abre os braços para te receber. Ouvi dizer que paraste de fingir no exato momento em que encontraste a verdade ostentada naqueles olhos insanos e lindos.<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Disseram-me ainda, no outro dia, que te viram cantando em plena madrugada. Que para ti, escuro agora é só uma desculpa para a lua brilhar sossegada e protagonista, e que ela, comovida que ficou com o teu amor, declarou ser ela de vocês dois e de mais ninguém.<span> </span>Disseram-me que carros brancos te fazem pensar em amor e bombas de asma são agora apaixonantemente vulneráveis para ti. Fiquei sabendo das madrugadas de fugas, fiquei sabendo dos teus namoros secretos de porta. Fiquei sabendo que encontraste agora o teu sonho de adolescente. <o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Assustei-me, porém, quando disseram-me que o teu alguém até mesmo acredita em ti. Desculpe, mas isso me parece deveras impossível. O que há em ti para ser crido? Sim, é bem verdade que o teu alguém te ajudou a enxergar a ti mesmo livre de miopias.<span> </span>Mas o problema não estava na distancia da imagem. Antes, no objeto em si. És tão egoísta e irresponsável. O que fazes aqui?<o:p></o:p></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Só sei que estou assustado porque ouvi dizer que encontraste um amor e já não sei por onde sofrer. Estou assustado porque o teu amor não para de tentar me fazer feliz e eu gostava tanto de sofrer. Não me reconheço. Ouvi dizer que somos duas faces da mesma moeda, mas como pode? Eu quero drama, quero tremer de medo. Fantasmas. Estou cheio deles. Tem tanto em mim que já morreu que me assusto em dizer que o teu amor já não me assusta mais. Fico feliz porque encontramos alguém como ele. Alguém como nós. Obrigado.<o:p></o:p></div>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-72080194104191844642011-07-16T15:04:00.000-03:002011-07-16T15:04:24.781-03:00O novo preto.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://beirouth.files.wordpress.com/2010/04/lama11.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="http://beirouth.files.wordpress.com/2010/04/lama11.jpg" width="400" /></a></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">O novo preto.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Masoquismo emocional. É sim, eu sempre fui Hitler de mim. Sempre achei linda a melancolia do preto e branco das minhas fotos. Eu, sempre rodeado por uma multidão de solidões. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Todo tipo, tamanho e índole contemplado em minha miscigenação emocional particular. Devo admitir o reconforto do quê poético delas. Não posso mentir que faço, também, jornalismo marrom de mim.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O engraçado de não viver o que se vive é que você se descobre um mentiroso muito melhor do que você esperava. Pior, eu fui estúpido suficiente para acreditar em mim. Sem cessar. Afinal, quem imaginaria que ainda haveria mais algum mentiroso em meu caminho. Apenas, o maior de todos. O mais intímo e, ainda, o mais misterioso. Apenas, eu.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Foi quando minha cabana virou babel. Quando meus segundos eram dias. Quando a lágrima era mesmo o cisco. Quando as vidas em cristal líquido eram as minhas muitas. Quando eu chamei “destino” o livro bonito que eu li. Quando deixei os olhos entreabertos ao pular do precipício. Quando o precipício era uma mureta. Foi quando me traí. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">A Descoberta era poderosa demais para mim.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Descobri que o que eu tinha de melhor era a representação. Era saber imitar. Ser quase igual, porém com a superficialidade inexorável de toda cópia vagabunda que se preze. Por algum tempo me contentei. Por algum tempo o apenas parecer que foi um ser satisfatório. Quase ideal. Jogar esse jogo de fingir foi realmente divertido. O único problema é o risco de esquecer que quem está jogando é você. E ninguém mais. Eu esqueci. Esqueci que embora eu estivesse jogando, o jogo não era jogo. Era só, e somente só, vida. Caí, por isso e, hoje, fui esquecido. Corro, então, para fazer virar esse tarde demais num, ao menos, em cima da hora. Corro para alcançar aquele que era eu, o eu mesmo, o eu de verdade. No agora, eu fechei meus livros. Desliguei a música. Olhos e ouvidos, por via das dúvidas. Deixei-me para mim e é só. Brincar de fogo machuca e, acredite, não é algo suportável. Matei todos os personagens e resolvi interpretar o que é meu, de fato. Não sou muito bom nele, me soa artificial falar com a minha própria voz e usar essas palavras que eu mesmo invento. Mas acho que é pra ser assim mesmo. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Hoje não viro mesas. Não quebro barracos e nem faço sujeira pra esconder no tapete. Antes, faxina. Antes, restauro. Dever de cuidado. É um alívio, na maior parte. Na menor, é cansativo mas eu me atrofiei como intérprete de mim e preciso disso. Melhor parar de falar, antes que as palavras me seduzam de novo rumo ao não ser, ao parecer. Vou mesmo é virar esses tapetes<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e pôr a mostra toda essa sujeira. Sim, eu vou revirar os tapetes, impregnar o mundo com a verdade encerrada nessa sujeira, porque antes verdade suja que a limpeza ascética e artificial da mentira. Pintar o mundo nas cores da verdade suja. Branco-mentira é last season e marrom, bem, marrom-sujeira é o novo preto. Sabe como é, sujar faz bem.<o:p></o:p></span></div>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-3222888166515115982011-03-06T00:21:00.001-03:002011-03-06T00:27:36.290-03:00Aeróbico<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/_Hs4m3T09iS4/S_GK6-LSM4I/AAAAAAAAANE/9Wgh_79f8AM/s1600/amor+toxico.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/_Hs4m3T09iS4/S_GK6-LSM4I/AAAAAAAAANE/9Wgh_79f8AM/s320/amor+toxico.jpg" width="213" /></a></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Voltara a respirar. Sim, porque havia já algum tempo que Lourenço não o fazia. Mas durante este tempo de pura anaeróbia cada célula de seu pulmão ardeu de vontade. Por dentro, só o que se ouvia eram os gritos desesperados de alvéolos sedentos pela fresquidão inebriante do oxigênio. É bom que se deixe claro, no entanto – Lourenço fora bravo. Lutara habilmente contra o impulso instintivo de sugar o ar. Ignorou a tendência natural do vácuo de se preencher e seu olfato permaneceu no escuro. Não por muito tempo. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">É claro que ele falhou. Em missões suicidas falha-se mesmo quando obtém-se êxito, disseram. Em missões suicidas o sucesso é meramente uma questão de quanto tempo você leva até levar a falha a cabo. E ainda, inevitável como é a falha, teria sido melhor se não houvesse falhado. Respirar é um risco sem o qual todos estariam melhores. Quando da inalação do ar ao seu redor, não há proteção contra nada. E você está completamente suscetível ao poder inebriante de todas as fragrâncias poderosas espalhadas por aí. É condenação.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Lourenço respirou, e, como não podia deixar de ser, condenou-se. Bastou o primeiro instante de inalação. Bastou a primeira tragada desesperada, sedenta de ar refrescante, e Lourenço já caíra. No primeiro grama de oxigênio adentrado ao sistema escondia-se uma fragrância pequenina. Era suave, era quente. Doce e quase infantil. Tinha um quê floral misturado a uma ardência, uma nota apimentada. Ele não conseguiu acreditar na maravilha daquele cheiro. Era difícil para ele entender a precisão com que alguém havia desenhado aquela fragrância para ele. Não era possível, simplesmente não era. Estava bêbado de prazer envolto no preenchimento absoluto que aquele cheiro o fazia sentir, para variar. Fora isso, só o que conseguia era se odiar por ter demorado tanto a respirar. Queria que aquele cheiro fosse toda a sua existência. Cada célula sensorial em suas narinas vibrava em regozijo pela maravilha daquela informação emitida ao cérebro. Pela maravilha que aquelas propriedades permitiam que o cérebro construísse em sensação. Nunca neurônios realizaram sinapses tão exuberantes. E por alguns instantes isso foi tudo. Por alguns instantes, Lourenço era só sentir. Era um bolo sensorial envolto em puro prazer. Nada mais importava, nem voltaria a importar, porque ele encontrara um cheiro e por ele tudo valia a pena. Nem tanto.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Eu ainda me lembro de quando vi acontecer. Lembro de quando ele engasgou. Num minuto ele tinha os olhos fechados e espremidos de tanto prazer; no outro só o que se ouvia era o engasgar arrepiante; seus olhos arregalados de dor me hipnotizavam. Ele tossia forte e agonizava, sufocado de decepção. Ele descobrira. Achara em sua primeira respiração a razão pela qual respirar era um risco tão grande. Disfarçada na doce fragrância que o arrebatara, estava um gás venenoso, praticamente letal. E aquele gás parecia estar precisamente desenhado para envenená-lo na mesma proporção em estava para apaixoná-lo. O veneno era metálico, era inorgânico. O veneno era de um aroma turbulento, assustador. O veneno era um assassino frio. Levava a cabo sem pena a vida de cada alvéolo que ousava tentar quebrar suas moléculas. Seus elementos não podiam se separar porque estavam determinados demais, unidos demais na mesma intenção destruidora. Tudo o que o veneno deixava era a vontade de que acabasse. Só o que Lourenço queria era o fim. E ainda ele nunca parecera tão longe.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Mas ele chegou. Quando acabou, encontrei Lourenço jazendo no chão. Ele era a própria decepção. Seu rosto encontrava-se desmoronado e nada que eu já tinha visto se comparava àquela tristeza antiga que eu notei em seu rosto. Repentinamente agora seus olhos me pareciam estranhamente anciãos para seu corpo jovem e bonito. Era como se seus olhos tivessem visto muito mais do que todos. Era como se todas as dores e decepções de todas as eras tivessem achado abrigo na dor que residia em seus olhos agora. Eu tive medo de que ele resolvesse nunca mais respirar. Tive medo de que o trauma fosse grande demais e ele resolvesse levar a missão suicida a cabo desta vez. Mas não. Como acontece com todos, Lourenço achou um jeito de continuar respirando. É claro que seus pulmões estariam danificados para sempre pelos danos daquele veneno. Em sua ânsia de absorver o cheiro maravilhoso do início, Lourenço respirara fundo demais, sedento demais que estava pela sensação daquele cheiro. E agora seus pulmões estariam prejudicados para sempre. Mas ainda assim,ele voltou a respirar. Lourenço achou um jeito de perdoar a vida pelo veneno que ela pusera em seu caminho. E Lourenço voltou a respirar. Devagar. Com cuidado. Que um dia Lourenço ache a fragrância de que precise. Eu sei que ele vai.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- esta é uma bela estória. Mais uma vez você arrancou a tristeza escondida em mim e esfregou-a por todo o meu rosto.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- foi você que quis ouvi-la. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- está tudo bem, não reclamo. O masoquista em mim precisa ser alimentado às vezes. Não sei por que, mas tenho a impressão de já a ter ouvido. Essa estória me soa familiar.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- você realmente não consegue se lembrar?</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Não totalmente, mas a descrição da fragrância me soa familiar. Eu sei que sim. Essa história eu já ouvi.</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O garoto tentou se lembrar. Olhou fixamente para a parede, desesperado por uma lembrança. Estava tão absorto que não percebeu a ponta de uma faca afiada perto de sua mão. Ao mover a mão, inevitavelmente tocou a faca e um corte pequeno desenhou-se na ponta de seu dedo. Uma dor pequena, mas muito real e aguda, desenhou-se em seu rosto por causa do corte. O outro garoto perguntou, em resposta:</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- você está bem?</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- estou. E me lembrei de onde conheço a história. Estranhamente, ela me lembra de quando me falaram do amor. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Ah sim, o amor é aeróbico.</div>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-81537741593623984282010-12-16T01:51:00.001-03:002010-12-16T01:57:09.248-03:00Corredores (uma sugestão de carta apaixonada.)<div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/_cYfxzQAQUE8/TKdgWnDr6hI/AAAAAAAAAFY/QghxDOEScKs/s1600/meninos_correndo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" n4="true" src="http://2.bp.blogspot.com/_cYfxzQAQUE8/TKdgWnDr6hI/AAAAAAAAAFY/QghxDOEScKs/s320/meninos_correndo.jpg" width="320" /></a></div>Querida (o),</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Eu corro em minha vida. O tempo todo. Tanto que velocidade já foi emoção. Hoje é rotina. São tantos os porquês de correr que esta vida já não me parece nada mais que um lago profundo na superfície do qual eu preciso correr o mais rápido que puder para que a gravidade, perversa, não me afunde em suas profundezas e eu me torne âncora para o sentir.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Eu corro do pessimismo alheio. Não o suporto. O meu? Continuo fingindo que não o tenho. Corro do odiar e desse sim posso falar com sinceridade. Não sei odiar, nunca soube. Acho que é porque eu sei que ódios, no fundo, são amores imperdoavelmente rejeitados. Eu não sei não perdoar. Eu corro de preconceitos, todos os dias. Porque é bem mais petulante do que eu posso suportar julgar amores ou sentires. Eu corro do meu passado e eu corro rápido. Corro também de algum futuro, talvez devagar demais, me parece.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Corro para ti. De dias cinzas, de hojes. Desses gritos ensurdecedores que não param de vir. Não param de jeito nenhum. Corro rápido demais. E ainda é devagar. Quando mentiras se tornam verdades, quando eu já cansei de correr só, quando o brilho dos teus olhos já apagou toda estrela, é quando eu corro para ti. Quando o mundo inteiro corre rumo ao desastre eu dou a costas e corro para ti. Porque esse amor é única verdade que eu vejo ao redor, por isso é que corro, e corro para ti. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Eu corro e, por isso, não se importe com a distância. Eles tem carros, aviões, navios. Mas eu corro para ti. Do que eu era sozinho e para o que somos juntos. Corro disso tudo e, ainda, queria voar. E se demorar? Só saiba que já estou indo, e espere, por favor. Quando estar só doer demais, dê mais uma lida nestas palavras. Minhas palavras são meu disfarce, me mantém sempre escondido perto de ti, por elas eu posso dizer que estou bem aqui do seu lado. É assim que as milhas de distância entre nós acabam me pondo bem do seu lado.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Continuo correndo, correndo para a vida que, sabemos, já é nossa. Corro porque ainda tenho muito para te dizer. Mas as palavras que faltam, esgotaram todos os idiomas dessa Terra e não se encontram em nenhum deles. Já não há fonema capaz de expressa-las. As palavras que faltam só o toque das minhas mãos é que pode te falar. Palavras que gritam de amor, sem ruído algum. Corro por que o toque dos meus lábios já não suporta mais encerrar as verdades contidas nos meus beijos guardados. Corro quando riem de nós e, mais, rio junto. Porque sabemos quem nenhum deles jamais se sentiu assim.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Eu corri. E ainda hoje corro. A diferença é que hoje eu só corro para ti. Corro porque vamos dançar até morrer. Juntos vivemos para sempre. Corro porque este foi nosso ultimato ao destino, nos deixe morrer jovens ou viver para sempre. E para sempre ele escolheu. E porque já sei que o meu mundo nunca mais será o mesmo, porque a culpa é toda tua, é que corro. Corro porque na verdade já estou chegando. E, juntos, podemos tudo. Corro porque essa já é minha rotina. E, eu sei, somente tu podes sacudir meu mundo. Tenho-te em minha frente, e é o fim de qualquer rotina. Porque é quando tu estás aqui, quando eu já cheguei, que toda correria cessa. Não há outro jeito. Tu aqui e eu ficarei para sempre imóvel para capturar cada centímetro nesta memória insuficiente. Você aqui e eu, finalmente parado, tenho a certeza de que, pela tua simples presença, enquanto corredor que sou, eu poderia correr bem mais que uma volta ao mundo. Sim, correria. Só, por favor, me espere, estou a caminho. Caminho.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Lucas. </div><br />
"tu dis<strong><em>p</em></strong>onível, e noite chu<strong><em>v</em></strong>a. Hoje tá tudo perfeito. Hoje podia durar para sempre",Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-53107876785264982132010-12-08T17:52:00.001-03:002010-12-08T17:52:42.443-03:00Isqueiros<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><br />
</div><br />
<div class="separator" style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; clear: both; text-align: center;"><a href="http://farm1.static.flickr.com/69/196590396_e297428490.jpg?v=0" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" n4="true" src="http://farm1.static.flickr.com/69/196590396_e297428490.jpg?v=0" width="320" /></a></div>[just gonna stand there and watch me burn/ but thats alright because I like the way it hurts/ Just gonna stand there and hear me cry/ but thats alright because I love the way you lie/ I love the way you lie.]<br />
<br />
[ (...) é sobre o prazer do cansaço dolorido que vou falar. todo prazer intenso toca no limiar da dor. O sono, quando vem, é como um leve desmaio de amor. Morrer deve ser assim: por algum motivo estar-se tão cansado que só o sono da morte compensa. (...) ] Clarice Lispector<br />
<br />
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;">Não! Por favor, não pare. Mas eu estou te machucando. Eu sei, só que é maravilhoso o jeito com que isso dói. Você sabe que é doente, certo? Sou sim, positivamente patético. É ridículo se deixar levar pela dor assim dessa maneira, ninguém deveria se entregar tão cega e passivamente a um sentimento só. Quem é alguém pra dizer o que outro alguém deve ou não fazer? Somos só matéria, só essa massa sensorial indiferente. Eu prefiro mesmo doer. Admito. Me ajuda a confirmar que ainda estou vivo. Tu não precisas confirmar que estás vivo, eu te garanto que sim. Quem me garante que tu mesmo estás, ou que não mentes? Por favor, agora já chega, não vou continuar a te machucar. E dizendo isso ela abaixa o isqueiro pequeno de motoqueiro com que queimava a palma da mão do outro. Eu não mandei parar. Mas eu não entendo o seu fascínio pelo fogo. Não há o que entender, eu mesmo não entendo, apenas sinto. Dor? Não é dor, embora seja. É antes beleza e, por isso, dor. O que é belo machuca? É claro. Não compreendo. Olha o fogo. É disforme. Dançante, livre, aleatório. Elegante e, embora quente, frio, impiedoso, avassalador. É terrivelmente belo. É uma catástrofe abençoada, é a glória da destruição. Isso me soa familiar. Somos todos fogo pros que nos rodeiam, o fogo é você. A menina reacende o isqueiro e o levanta à altura dos olhos por um segundo entende o garoto, e o fogo. Por um segundo ela entende que são um só. O fogo e o garoto. Fogo e oxigênio. A meta e o jogador. Entende, mas logo esquece. Quase que imediatamente. Resta apenas aquela leve impressão de reconhecimento, de quando se encontra um antigo colega de infância do qual se têm apenas a vaga impressão de já o ter visto. O menino retoma o isqueiro e volta a queimar a mão. Sua expressão é doentia como a de um viciado. A garota sente pena. Ele está agora de olhos fechados. As lágrimas escorrem. Sua expressão é pura dor, o rosto contorcido. Ela nunca vira tanta miséria. Ela olha para a fonte de tanta tortura. O isqueiro. Ele brilha, prateado. É uma prata limpa, bela. Ela o está admirando por alguns segundos quando a percepção a atinge em cheio. Os soluços continuam, cheios de dor. Só que o isqueiro jaz agora apagado. Viciado na dor, o garoto só quer sentir. Ele abre os olhos. Olha nos olhos da menina. O fogo me faz entender nós dois. Me faz entender, que eu amo o jeito como você mente. Amo o jeito sádico do fogo de me consumir, tecido por tecido. É dor pura. É simples existência. Pura experiência. Vocês, isqueiros, são lindos.</div>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-32791166407180693092010-11-28T17:03:00.000-03:002010-11-28T17:03:05.060-03:00Sobre lâmpadas e sóis.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/_-_LKC-iqiu8/RunLibITPyI/AAAAAAAAAB0/WN3qnU0IbyQ/s400/futur_balla.lampada_xlg.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" ox="true" src="http://4.bp.blogspot.com/_-_LKC-iqiu8/RunLibITPyI/AAAAAAAAAB0/WN3qnU0IbyQ/s320/futur_balla.lampada_xlg.jpg" width="208" /></a></div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;">“ para vermos o azul olhamos para o céu. A terra é azul para quem a olha do céu. Azul será uma cor em si, ou uma questão de distância? Ou uma questão de grande nostalgia? O inalcançável é sempre azul.” Clarice Lispector</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">“I dont want to be the girl who has to fill the silence. The quiet scares me cause it screams the truth”. Pink.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;">Desligou o sentir. Havia desistido, há muito, da pálida ilusão que é o amor, daquela mísera áurea vagamente luminosa e absolutamente insatisfatória. E, só agora, no entanto, havia se dado conta de que, provavelmente, era melhor desligar o interruptor da luz que ele não mais usava há já tanto tempo. A conta podia vir cara. Tanto que ele havia acreditado num sentimento grandioso, movedor de montanhas; num sol poderoso; em estupendas explosões de bombas de hidrogênio potentes para iluminar galáxias inteiras de amantes. Tanto que ele havia acreditado, tão grande fora sua queda na descoberta da “verdade”. Descobriu, a custo de muita dor, que haviam luzes de força muito maior. Descobriu que embora o amor prometesse tanto, era tudo uma questão de perspectiva. O amor, uma vez que não esteja mais sozinho, e sim, como está na realidade, rodeado de interesses e sentimentos, não passa de uma mísera lâmpada incandescente em meio a uma Times Square de néons sentimentais. Em perspectiva o amor é luz obsoleta. </div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;"><br />
</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;">Desligou, portanto, o sentir. Abriu o circuito para que a energia já não completasse seu ciclo doentio de dor e desilusão. O hábito tornou-se seu mestre. Viveu sem sentir, pilotado automaticamente, num robótico frenesi de repetições cotidianas. Suas quedas, o hábito amorteceu, é bem verdade. Só não lhe ocorrera que não sentir implicava também em perder a vantagem da dor como aviso e sintoma. A dor do despedaçador estrepar-se no chão pós-queda; a dor de alma queimada na fogueira; essa dor era sempre anúncio oportuno de perigo, a dor que delatava a doença, a dor providencia dos enfermos, apaixonados. Agora vivia sereno, é claro, mas em constante perigo de vida. Podia estar morrendo sem saber ou, pior, podia estar, no breu do inconsciente, no sujo dos covis secretos da alma, completa e perdidamente apaixonado. Mas não! Protestava o grande teatro interno de sua consciência, querendo convencer a todo custo da inexistência do sentir. Inadmissível, insuportável, inapropriado e, ainda, desesperadamente desejado esse tal de amor.</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;"><br />
</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;">E aí está. Tudo ruíra. Está tudo posto a baixo. Admitira a si próprio o desejo pelo sentir, condição imediatamente destruidora do estado anestésico que tanto lutara para construir. E é por isso que o não sentir duela consigo próprio, é seu maior apego e maior rivalidade. É seu próprio arquiinimigo, é o maior risco e o maior traidor de si mesmo. Uma vez cessados os gritos do amor, uma vez ele vencido, é preciso cuidado, um cuidado que o rapaz não tivera. É que o calar do sentimento, tão avidamente procurado, assusta justamente porque o silêncio sempre grita a verdade. Ele está sempre a plenos pulmões na muda, ensurdecedora tentativa de não nos deixar esquecer as verdades que tão cuidadosamente escondemos de nós.</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;"><br />
</div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;">E, fantasias anestésicas postas por terra, o rapaz está livre para se permitir encher de esperança novamente. Não que ele tivesse escolha, não que agora ele não estivesse em risco permanente de vida. Não que agora felicidade e medo não tivessem se unido num matrimônio escandaloso para tornar o seu cotidiano pura emoção e risco. Não que agora, mais uma vez, seu oxigênio não fosse o não respirar, que vácuo permanente em seus pulmões não fosse a maior das alegrias na sua busca frenética pelo ser amado. Porque isso tudo era verdade. Amor, e disso o rapaz sempre soubera, é suicidar-se continuamente, é pousar a mão deliberadamente sobre o nariz e extinguir a passagem de ar, é sentir-se assim, desmaiar já sem fôlego restante e acordar já numa outra vida, de outras sensações. É que, quando um mísero silêncio, rompe com sua própria natureza muda e se faz ouvir no meio das tantas sinfonias ensurdecedoras, pra gritar um amor qualquer, você sabe que também um simples ligar de interruptor pode fazer uma mísera lâmpada incandescente brilhar mais que os dez mil sóis de uma galáxia. </div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><br />
</div>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-27700054228363941962010-11-21T00:15:00.003-03:002010-11-21T00:27:42.506-03:00But still, you said forever<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://garatujando.blogs.sapo.pt/arquivo/Mulher%20na%20praia2.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 435px; height: 296px;" src="http://garatujando.blogs.sapo.pt/arquivo/Mulher%20na%20praia2.jpg" alt="" border="0" /></a><br /><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:trackmoves/> <w:trackformatting/> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:donotpromoteqf/> 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justify;" class="MsoNormal">[when someone said count your blessings now, for they long gone/ I guess I just didnt know how/ I was all wrong/ they knew better/still, you said forever// ]<br /></p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal"> </p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">Bani-te de meus sonhos. És agora uma habitante indesejável, e ainda, ninguém mais eu queria enxergar ao fechar os olhos. Mas nem importa, porque banida estás. Que eles me levem a sonos mais tranqüilos agora que não mais presenciam nosso encontro de tornado e vulcão. Agora sonho com mares calmos e abertos.<span style=""> </span>Pena que me acostumei aos maremotos, hoje morro se não me afogar diariamente. E tenho ressuscitado diariamente. Todo esse oxigênio livre e disponível tem-me sufocado. Antes as águas salgadas dos teus males a mim, deliciosamente me queimando os pulmões. Ah, se eu pudesse...Mas Não! Bani-te pra sempre.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">É que não posso perdoar. <span style=""> </span>Eu quis matar a todos os que nos condenaram a um fim. Em três e trinta anos ainda meu vento estaria a soprar a tua lava e do frio de meu sopro em tua lava teria nascido essa rocha sólida. Eles estavam todos errados, quem sabia era eu e gritei pro mundo ouvir.Porque tu disseste “pra sempre”. E bastava. Ava.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">Eu estive sempre tão seguro que aquele amor estava ali guardado comigo, aonde quer que fosse, que quando vieram novamente as profecias de fim que eu não suportava ouvir, não tive medo. Disseram “devias checar esse amor, porque as benção já ficaram para trás”. E eu acho que eu só não soube o que fazer, estava na verdade tudo vazio. Levaste tudo.<span style=""> </span>Eu estive completamente errado. No fim, eles é que sabiam, mas ainda assim, é que tu tinhas dito “para sempre”.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">E é por isso que estás banida. Nos meus sonhos agora reina a paz. Mas ainda assim, porque, meu deus, é o inferno e a agonia de te amar que desejo enxergar a cada vez que fecho os olhos? Vai-te daqui. E, ainda, volta e me põe no colo.<span style=""> </span>Nunca mais ouse me olhar nos olhos, mas por favor, faça de mim um homem, todo santo dia nessa junção etérea de nós dois. Quando os meus incontextos começam a ser meu único sentido, eu sei que falhei. Nós não fomos pra sempre. Não fomos primeiros.<span style=""> </span>Já não há como e, já sei, não seremos últimos. Eles é que estavam certos, era neles que estava a verdade. Eu, errado. Mas, ainda, tu tinhas dito “pra sempre”. Eu, errado. <span style=""> </span></p>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-89740374389290720092010-08-06T22:54:00.005-03:002010-08-08T01:08:10.007-03:00Slow down, you crazy child.<a href="http://1.bp.blogspot.com/_79Sg9IKpYcM/TDeQsUDG3II/AAAAAAAAAPs/1ahnJVsqifY/s640/crazy+child+vienna+billy+joel.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 348px; CURSOR: hand; HEIGHT: 480px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_79Sg9IKpYcM/TDeQsUDG3II/AAAAAAAAAPs/1ahnJVsqifY/s640/crazy+child+vienna+billy+joel.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><em>- Let us die young or let us live forever,</em><br /><br />Mãe,<br /><br />Perdão, mas não pude esperar. A espera tem muito de expectativa e pouco demais de experiência. Me fartei de criar meus medos a pão-de-ló, envenenei a todos. Homicídios frios e calculados. Talvez encontres seus cadáveres inúteis, vítimas de cicuta, nas palavras vazias que escrevi, espalhadas nos papéis avulsos de minha bagunça. Agora? Eu corro. Não sei voar, mas andar já me deixava mais distante do céu do que me é suportável. Corro porque não caibo em mim. Porque preciso me gastar pra que não transborde o meu eu. Corro, porque tenho pressa. Porque a eterna juventude não pode e nem quer me esperar; só correndo posso alcançá-la. Corro porque quero esse frescor batendo em cheio em meu rosto. Porque quero tragar com força esse ar pulmão à dentro, porque quero esse barulho de tempestade para a trilha sonora de minha vida. E por que corro, não tenho mais tempo de dizer nunca. “Nuncas” pressupõem justificativas, e estas demoram demais para caberem em uma juventude. Escrevo para dizer-te que vou vivendo assim mesmo. Sem olhar pros lados, porque quero meu rosto dourado virado para o sol. A senhora consegue imaginar? A vitória dessa corrida? Glória pra quem correu. E então, as aventuras que não puderam acontecer hoje, as canções que eu esqueci de cantar, esses sonhos que andam vagando à espera de quem os adote, deixaremos que sejam paridos por nossos feitos.Mais uma vez, perdão. Mas não esqueça, eu te amo. Só não pude esperar, eu não me permiti. É morrer jovem, ou viver para sempre.<br /><br /><br /><em>-You’ve got your passion, you’ve got your pride. But don’t you know that only fools are satisfied? Dream on, but don’t imagine they’ll all come true. When will you realize? Vienna waits for you,<br /></em><br />Filho querido,<br /><br />Não pense que condeno tua pressa. Não. Não serias o meu menino sem ela. Mas verás que a eterna juventude já reconheceu teu mérito e, cedo ou tarde, estará esperando-te com o prêmio, honrada por te entregá-lo. Não te esqueças que eu conheço teus sonhos. Foi em meu colo que teu sono os forjou. Eu me lembro da metrópole que sempre os habitou, e nunca me enganei. Sempre esteve comigo, a certeza de que nada menor te bastaria. Fui egoísta, confesso. Temi por mim e não por ti. Temi a dor de não te ter. De te perder para o mundo. Mas minha tutela sempre foi provisória, um favor que a vida fez e que eu, não tenho vergonha em admitir, aproveitei com a intensidade de quem tem alguns anos pra viver a eternidade. A tutela que era provisória, agora é esporádica, pois podes ter certeza este abraço não cansa de abrir para ti.<br />Mas criança, vá devagar. Respeite os seus medos, pois não mataste a todos. Ou achas que eu não consigo ver que os olhos assustados do garotinho nas madrugadas de pesadelo, escondem-se por detrás dessas pupilas deste homem tão distinto e perspicaz em frente a mim? Quem corre demais pode tropeçar, ou exaurir-se antes da metade do caminho.Tu não podes ser tudo o que queres apenas no intervalo de um passo e outro, tu não precisas. Tens toda uma estrada para mudar, e não te preocupes em se perder, porque o caminho certo é o que escolheres. Diminua, sem medo. Pare para divagar. Permita que corram contigo, e aprecie a vista ao redor. Você está indo bem, só precisa aprender a importância de se deixar perder um dia ou dois. Correrá mais rápido, na volta. Tenho em mente que provavelmente serei acusada de ser um clichê, mas mães, graças a deus, continuarão sendo sempre clichês. Por isso, não há vergonha em dizer-te que, o que é teu já está guardado. E podes pegar o que quiser para ti, por isso não corra tanto. Quando é que vais perceber? Aquela metrópole sempre esteve esperando por ti.<br /><br />Com amor,<br />Mamãe. </div>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-6314094199511858602010-07-23T21:03:00.004-03:002010-07-24T11:44:46.252-03:00BleedThePainOut<a href="http://3.bp.blogspot.com/_KNjCYV95eqY/SzurYfvMbJI/AAAAAAAAACg/PJrV7X7daww/s400/afogando+as+magoas.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 357px; CURSOR: hand; HEIGHT: 280px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://3.bp.blogspot.com/_KNjCYV95eqY/SzurYfvMbJI/AAAAAAAAACg/PJrV7X7daww/s400/afogando+as+magoas.jpg" border="0" /></a><em> "In the night, I hear them talk, coldest story ever told. Somewhere far along this road he lost his soul to a woman so heartless". Kanye West</em><br /><br /><strong>*para ler ouvindo "Heartless" na versão acústica do The Fray, </strong>neste link: <a href="http://www.youtube.com/watch?v=0yNU4SmQcHo">http://www.youtube.com/watch?v=0yNU4SmQcHo</a><br /><br /><div align="justify">O sino da porta tocou. No susto, derrubei o prato que lavava com um estrépito alto. Ninguém pareceu ter ouvido. Olhei em direção à porta para esquadrinhar quem é que havia entrado. Qual não foi a minha surpresa ao perceber a figura recém adentrada àquele recinto?! Ele destoava por inteiro de qualquer átomo daquele local. Aquele bar velho, malcuidado, úmido e pouco iluminado era sempre cheio de velhos aposentados em depressão, alcoólatras em depressão, donas de casa cinquentonas em depressão porque não pegam mais ninguém, caminhoneiros em depressão por conta da melancolia e solidão da estrada, administradores de meia idade que são infelizes na carreira por terem-na escolhido em busca de dinheiro e terem abdicado de qualquer vocação ou sonho que tivessem. Enfim, aquele era um bar dos que desistiram. Aquele era o império do eterno lamentar, o país dos que já perderam, a terra de quem não tem vez, nem nunca terá.<br />Aquele rapaz que acabara de entrar, no entanto, representava um contraste acachapante com toda e cada célula e ser vivente daquele lugar. Não me admirei com o fato de não ter sido eu o único a me chocar com aquela presença tão incomum. Bêbados que dormiam, esquecidos de viver, acordaram como se aquela áurea pura de quem ainda tinha esperança, e cuja força ainda estava intacta, os tivesse atraído para o lado de fora do seu estado de torpor, dormência, inércia. As velhas cinquentonas todas, empertigaram-se nas cadeiras do balcão, ajeitando cabelos e perfumando-se, retocando rapidamente a maquiagem, como que num ritual patético e masoquista de quem, embora há muito já tenha desistido, está há tempo demais mecanizada com os velhos e péssimos hábitos.<br />O rapaz era muito bonito. Um jovem homem de não mais que vinte e um anos. Seu rosto era o rosto suave de quem não havia sofrido muito na vida. Era de estatura mediana, robusto. Vestia-se impecavelmente bem e via-se com evidência os traços e feições de quem foi bem cuidado e amado na infância e na adolescência não distantes.<br />- Barman, por favor! – disse ele com uma voz bonita, amaciada, mas firme e marcante. O tom era educado, mas notei uma nota de tristeza inconfundível. Aproximei-me por detrás do balcão, atendendo ao seu pedido.<br />- Pois não, em que posso ajudar? – respondi.<br />- Eu gostaria de uma dose de uísque, oito anos, e de um canivete, se você tiver, por favor. – Agora que me havia aproximado, podia notar. Ele andara chorando. O rosto que ainda preservava traços infantis, guardava uma tristeza pura, sincera, simples e compreensível. A tristeza de quem não corre atrás de sofrer, que sofre porque sofre e não de quem, como tantos ali, buscava a tristeza desesperadamente. Não, a dele não era, em definitivo, a tristeza teatral, pesada, anciã de velhos experientes que sangram somente para se certificarem de que ainda vivem.<br />Levei-lhe o uísque, sem gelo. Ele agradeceu. Saquei o meu velho canivete de dentro do bolso do avental e entreguei-lhe em mãos. Eu estava consciente de que cada olho naquele recinto encarava fixa e ansiosamente o rapaz. Ele parecia alheio do mundo inteiro ao seu redor. Ele virou o uísque e o bebeu num só gole de uma só vez. Para a minha surpresa não houve careta, não houve espasmo. Era quase como se a dor que lhe incomodava neste momento, qualquer que fosse ela, era muito maior do que se podia supor ser suportável para ele, que não era mais que um rapaz, tanto que uma dose de uísque não representasse algo comparável. No momento em que ele abriu os olhos, eu vi um homem desabar. Não me entendam mal, não fiquei chocado. Pelo menos algumas centenas deles já haviam desabado na minha frente, naquele balcão. Só que dessa vez, foi triste demais. Dessa vez não era um bêbado velho, um executivo de meia idade em depressão ou uma velha senhora patética. Dessa vez era um belo rapaz, jovem, bem cuidado. Dessa vez, me entristeci, porque dessa vez, eu vi que o meu costume de ver a tristeza em quem a merecia, me havia fechado os olhos. Eu estava chocado, por finalmente ter visto que a tristeza não tinha preconceitos. Era para todo e qualquer.<br />O rapaz olhava em frente, de rosto levantado. O olhar fixo em fúria, ao passo que lágrimas constantes escorriam-lhe, teimosas, pelas maçãs rosadas do rosto. Sua face era só contradição, pois eu jamais imaginara que alguém capaz de tamanha ferocidade no olhar pudesse derramar uma lágrima que fosse. A dor dele repentinamente, tornou-se cristalina para mim, só porque apesar de toda a beleza, o bom cheiro, a pouca idade, a dor dele era a mesma de cada um ali. Via naqueles olhos jovens, a dor de quem amava só. A dor que de quem amava sem porquê. Eram os mesmos olhos das almas preteridas que todo o dia me choravam mágoas seculares. Eram os olhos da raiva de quem foi trocado. De quem não foi o Um. De quem foi só o segundo melhor, de quem não foi capaz.<br />Abriu o canivete. Eu temi pelo que ele fosse fazer, mas não ousaria interferir.<br />- Não quero mais ouvir. – disse ele – Não posso mais viver dessa maneira infiel. Não és pela metade, és inteiro e quero o que és. O que podes ser para mim, já não basta. – Dirigiu o olhar para mim, mas eu sabia que o que lhe saía pela boca estava endereçado a outro par de ouvidos os quais, eu também sabia, jamais o ouviriam. – Eu não sei mais respirar, mas por enquanto vou vivendo mesmo sem ar. Porque esse ar que tu respiras me é agora veneno. E porque ar não me interessa se já não é a tua respiração quente sobre mim. Tu não podias. Mas pôde. Perdão. Desculpa a minha desumanidade, mas eu te amo e não posso te perdoar, não consigo. Acho que nem quero. Para todos os efeitos, no entanto, fica dito que eu não sei esquecer. – essa ultima frase foi dita com uma amargura sem igual. Tirei os olhos dos dele. Algo que pingava chamou minha atenção. Olhei para o balcão, ele tingia-se de um vermelho escuro, brilhoso. Era um tom hipnotizante, eu tinha que admitir. Busquei a fonte de tanta cor. Achei. O meu canivete encontrava-se espetado na palma aberta da mão de um rapaz belo e triste.<br />- Mais um uísque, mais um canivete – pensei.</div>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-39927635228094410472010-07-13T12:43:00.004-03:002010-07-15T14:09:21.399-03:00TomorrowIsMyTurn<a href="http://hoppingintopuddles.files.wordpress.com/2007/11/comedy-tragedy-mask.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 500px; CURSOR: hand; HEIGHT: 299px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://hoppingintopuddles.files.wordpress.com/2007/11/comedy-tragedy-mask.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><em>“Tough some may reach for the stars, others will end behind bars. What the future has in store, no one ever knows before. Yet we would all like the right to find the key to success, that elusive ray of light that will lead to happiness”. <strong>[nina simone]<br /></strong><br />“Suddenly I see, Suddenly I see, this is what I wanna be. Suddenly I see, why the hell it means so much to me?”<strong> [KT Tunstall]</strong></em><strong><br /></strong><br />- Estou cansado, sabe?!<br />- Mas você nem foi hoje ao trabalho..<br />- Mas me cansei. Não te agüento mais.<br />- Você não pode ver-se livre de mim. Estamos mais ligados do que você pensa.<br />- Eu bem sei de nossa ligação, e é por isso que a interrupção não será gradual, sem dor. Será abrupta e dolorosa, que é como são todas as mudanças significativas.<br />- Eu não vi essa epifania vindo. Porque raios isso agora? Porque não te faço feliz?<br />- Mestres em potencial cansam de serem pupilos. Borboletas de serem lagartas, Cisnes de serem patinhos feios. Árvores de serem mudas. Homens de serem garotos e mulheres de serem meninas. Belos textos de serem palavras desconexas, Milagres de serem orações, Tornados de serem sopros, sinfonias de serem dó-ré-mi, grandes aventuras de serem idéias engraçadas. Assim eu também, por minha vez, cansei de ser você.<br />- O que te faz pensar que és melhor que eu? Que seria evolução e não vergonhoso retrocesso deixar de ser eu?<br />- Nada em especial, mas tenho que pensar assim para que as coisas ganhem algum sentido. Só sei que cansei de ti, do cara gente boa, mas de quem ninguém lembra. Cansei do bom rapaz, de quem todos esperam o melhor mas a quem não param de magoar. O bom rapaz não me faz mais feliz, ele não cansa de apanhar. E pra mim já não vale à pena.<br />- De fato, não deixas de ter razão. Tu cativas a todos e os retém em mãos. Consegues acalmá-los e eles sentem a tua falta. Tu realmente preenches cada canto e ocupas espaços dos quais não sou capaz.<br />- É, aprendi contigo a chamar as atenções pra mim, ao ver teu completo insucesso na tentativa. Aprendi ao te ver errar e errar.<br />- Ao menos te fui útil.<br />- É claro que foste. Sem ti não poderia ter amadurecido e valorizado tudo de bom o que tenho. Tudo o que sei agora, no entanto, é que hoje é a minha vez. Receber sem ter dado, glória sem suor. Nem dúvidas, nem medos. E o futuro? Me pertence. É, estou mesmo banindo humildades forçadas, é para ser feliz que cheguei aqui. Agora é outro verão, fica e arrepende-te sozinho do que não fizeste, porque o que passou não mais será. Isso tudo é o que eu sou, Não vou parar.<br />- Só cuidado, não vá atropelar alguém nessa corrida desenfreada.<br />- Levo algo de ti, não te preocupes. Não sei machucar ninguém, só que foi-se o tempo em que te arrancavam pequenos pedaços, cada qual causando-te uma pequena dor. Ninguém vai levar o que eu sou.<br /> Aquela a conversa terminou. O belo rapaz, impressionantemente confiante, de fato chamava a atenção. Hoje encheria os olhos de todos que para ele olhassem, transpirava resolução, confiança. Era o que qualquer um quer. Ele terminou de se vestir, e deu um ultimo adeus ao rapaz triste e murcho que o olhava do outro lado do <strong>espelho</strong>, esperava jamais voltar a vê-lo. Apagou as luzes e deixou o quarto em que havia estado <strong>completamente só</strong>.</div>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-34764447449967471142010-07-06T20:21:00.006-03:002010-07-08T11:44:48.744-03:00O jardineiro<a href="http://mguidoni.files.wordpress.com/2009/05/seguir-em-frente.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; width: 302px; height: 400px; text-align: center;" alt="" src="http://mguidoni.files.wordpress.com/2009/05/seguir-em-frente.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify">Ele: Eu gostaria de ir embora, por favor.<br />Ela: Não, ainda é cedo. Te quero comigo.<br />Ele: Não há nada que eu queira mais do que passar a eternidade neste quarto, acredite. Mas não posso querer isso, não devo.<br />Ela: Claro que pode, é tão bom.<br />Ele: é bom, mas é macabro. É delicioso, mas torturante.<br />Ela: Não para mim, nunca fui mais feliz.<br />Ele: Eu achei que bastasse, mas nem. Me chame de egoísta, mas meu amor por ti te quer só para mim. Qualquer outra opção é insuficiente, amarga. Não se preocupe, amo-te bem mais que a qualquer outra em minha vida. Mas não suporto mais, a angústia da eterna pergunta que me faço a todo o momento. Estou entre os teus pensamentos, ao menos às vezes?<br />Ela: às vezes, sim. Mas tenho andado muito ocupada.<br />Ele: Não te cobro nada. Nem ouso dizer que te esqueci, que vou prosseguir sozinho, porque não vou. Não posso. Não consigo. Te amo a cada dia de uma outra maneira e cada nova maneira traz um aspecto novo de ti pelo qual me encantar. Te preciso aqui desesperadamente agora, mas não precisa ficar. Aliás, não fique. Não posso mais conviver com esse meio-amor desavergonhado que me propões. Não te quero, não te posso pela metade.<br />Ela: Eu não posso te dar mais. É tudo o que eu tenho. E Não acredito em ti, não és capaz de deixar de me amar.<br />Ele: Não estás me ouvindo? Não tenho essa pretensão, já vai longe o dia em que me tornei refém desse sentimento. Já tentei não te ligar, mas perdi o controle. Porque sempre te preciso agora. Nunca te tenho, porém. Não ligue pra mim. Estou um tanto bêbado, mas não esqueço que tiveste teu tempo pra escolher. E eu? Já não tenho nada a perder. Te amo, mas não te tenho. Tirar-te da minha vida não fará assim tanta diferença. Teu amor finge, e se orgulha. Mas jamais me enganaste. É só que, me bastava ter-te em ilusão, ter-te em mentirinha. Era só que te ter era meu oxigênio, te ter amando-me não me pareceu tão mais crucial que ar puro.Todos os dias respiramos em poluição, mas vivemos . Agora? Não, não pense que o amor diminuiu. É só que é grande demais para caber na tua mentira. É cruel demais comigo ignorar esse grito de dor constante.<br />Ela: Sinto muito. Não posso mentir para mim como menti para ti. Não sei trair-me assim.<br />Ele : Eu sei que não, estás certa. Seja feliz. Preciso disso. E não te esqueças, eu te amo, como sempre e estarei aqui pro caso de me quereres por inteiro. Esse amor, dói saber, poderia ser para sempre. As rosas também, mas alguém quis que logo morressem. Assim como quiseram o teu amor por mim.<br />Ele levantou-se da cama, e encarou-a pela primeira vez desde o início da conversa. Ela pegava uma bebida do frigobar. A última lágrima caiu, ritualística, no assoalho de carpete do quarto. Deixara uma mancha pequena. Não se preocupou, a mancha secaria dentro em breve. Ele vestiu-se enquanto ela tomava banho. Uma resignação nova o açoitava em direção a um novo rumo. Pagou a conta antes de ir, e deixou o quarto sem dizer adeus.<br />Andando no caminho para casa, observou um jardineiro displicente cuidar de um jardim. Plantava uma nova e linda muda de lírios, à qual regava com fartura. Ao lado, uma roseira morria de sede. Seca. Triste. Só. Esquecida. Ao chegar em casa, foi direto ao jardim. Ia plantar uma roseira. </div>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-6114491867988473432010-06-27T22:05:00.003-03:002010-06-27T22:15:21.033-03:00FuelForLife<a href="http://images.paraorkut.com/img/papeldeparede/1024x768/r/relax-3331.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 622px; CURSOR: hand; HEIGHT: 545px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://images.paraorkut.com/img/papeldeparede/1024x768/r/relax-3331.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify">Ele desistiu de um amor. Ele já mentiu. Ele não faz questão de bons gostos. Na verdade, seus gostos não combinam, não fazem sentido. Afinal, quem disse quem disse que um blues amargo não combina com um pop selvagem? Falam do mesmo homem. Ele. O homem. Ele não se importa de pedir desculpas. Ele engole orgulhos, e baixa a cabeça perante vozes mais altas. O homem treme de medo. O homem mantém aparências. O homem não quer responsabilidades. O homem, não admite, mas só quer prazer. Ele fugiu quando pôde. Quando não pôde também. Ele descobriu segredos que não eram seus. Aos seus, ele não suporta encarar. O homem teve vergonha de si e envergonhou aos seus. O homem esqueceu grandes amigos, não lhes telefonou. Ainda os ama. O Homem quis morrer. Quis nascer de novo. Quis nunca ter nascido. Quis viver para sempre. O Homem não se decide. Ele não sabe perder. Ele já perdeu vezes demais, mas nunca pára de fingir estar sempre ganhando. O homem até chora, vejam só! Outro dia o encontrei, e surpreendi uma lágrima manchando a sua camisa. E mais uma. E mais uma. Uma delas tocou o chão, e lá nasceu uma plantinha pequena. Claro que não, é mentira. Plantas não nascem em chãos de pedra. Quem lhes tiver dito isso, mentiu. Ainda assim houve algo de novo após aquela lágrima. O homem engoliu o choro. Ele parou de pensar naquilo em que não vale a pena pensar; sinapses não custam assim tão pouco. O homem admitiu a perda. Ele largou vergonhas e pudores. Descobriu que bom gosto é chato. Descobriu que música é só sobre sentir. Descobriu que quase tudo é sentir. Ele agora gosta de fome, de morrer de vontade. De admitir incompletudes e de gritar o quanto precisa. Ele agora fala alto. E sim, o homem ainda treme de medo. Mas medo é prelúdio de iniciativa, e ativa a produção de adrenalina. Fuel for life. O homem só não se esquece, e nem jamais poderia, que ele desistiu de um amor. Alguma primeira pedra...?</div>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-56673441845471391332010-06-20T18:52:00.001-03:002010-06-20T18:56:40.415-03:00Eu não te amo.<a href="http://folhasenotas.files.wordpress.com/2008/04/orgulho.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 500px; CURSOR: hand; HEIGHT: 375px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://folhasenotas.files.wordpress.com/2008/04/orgulho.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify"><br />“Se nós, nas travessuras das noites eternas, já confundimos tanto as nossas pernas... diz com que pernas eu devo seguir” Chico;</div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"><br />Não te enganes, eu não te amo. Nunca te amei. Essas palpitações nauseantes ao menor sinal da tua presença não dizem nada. Esse rubor escarlate não é de amor. Esse suor nas mãos, as borboletas no estômago, nada disso diz que eu te amo. Não é por ti que chorei noites inteiras, não é por ti que ativei meu senso de masoquismo musical, tentando expurgar a dor de amar no embalo das notas melancólicas e nas palavras tristes e belas de amantes anteriores a mim. As lágrimas não te pertencem, as músicas não me lembram nós dois, e essa dor, não te dou o direito de achar que a culpa por ela te pertence. Não penses que te amo, só porque na bagunça de nossos corações meu sangue trocou-me por tuas veias e se perdeu. Não é porque te quis sem cessar, não é porque oxigênio me faz menos falta, não é porque todos esses dias sem te ver podiam não existir sem fazer falta, que podes achar que te amo. Não é porque já fomos um, indistintos na mistura dos membros, não é porque agora mesmo não consigo partir, porque agora mesmo não tenho cara de olhar o mundo sem ti, que ainda guardo algum mísero sentimento. Foste a única fome, a única sede que conheci, foste honra em minha vida.Tens esse quê de beleza maior do mundo o qual não posso descrever, me dás certeza da vida em mim, e nunca baixei minha guarda para alguém que não para ti. Mas não te amo. Não te quero, nem te posso. Não te amo. O céu foi há muito tempo atrás e já joguei tuas coisas fora, mas quero tudo de novo. Perdi a noção da hora, mas quero que ela não exista, para que o fim não tenha a audácia de chegar. Só não te esquece que não te amo.</div>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-65520319473925385842010-05-29T23:09:00.006-03:002010-05-30T01:20:10.249-03:00(à) noite.<a href="http://www.culturalivre.net/wp-content/uploads/2008/02/noite.JPG"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 410px; CURSOR: hand; HEIGHT: 308px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://www.culturalivre.net/wp-content/uploads/2008/02/noite.JPG" border="0" /></a><br /><div align="justify">Hoje ele resolveu ser infeliz. Ouviu aquela musica que o fazia chorar lágrimas que não estavam a caminho. Lágrimas por compulsão. Pensou em si como digno de pena. Talvez o fosse, de fato. Sim, o era. Apagou as luzes do quarto, as suas próprias também. Os olhos eram de um vazio sufocante, mas temporário, ele sabia. Deitava na cama encolhido, despido de todas as vaidades, de todos os enfeites chamativos de sua personalidade, de tudo o que chamasse para si as atenções, e que porventura o tornassem interessante. Era só ele e o seu segredo naquele quarto escuro. Nada mais íntimo que isso, revelar a uma imensa platéia de ninguéns que, na verdade, não há nada demais em você. Nada de errado, nem nada de certo. Ele era, no fundo, frustrantemente comum, insossamente piegas. Amargamente infeliz, naquele momento. O que havia para ser feliz? Perder a perfeição implicava em ter, pra sempre, o segundo melhor. E, é claro, a eterna culpa de tê-la deixado ir, aquela grande paixão. Nada podia melhorar as coisas. Alguém beijou seus lábios, ele experimentou outra boca. Ele disse coisas bonitas, mas a voz não era a sua. Nada o era bonito por dentro hoje. Todos os seus muros feneceram neste dia. Todos os arquétipos, fenótipos. Hoje ele era só a constituição verdadeira, o puro genoma. A pura melancolia e a tristeza com-porquê. Ele viveu, é a boa notícia. A má é que não é por nada seu que ainda respira, nenhuma mísera tentativa de sua parte. Viveu pelo dia que vinha. Viveu para se lhe atingissem como raios de sol queimando através da escuridão absoluta dessa noite, longa demais. Viveu porque já havia visto cumplicidade naqueles olhos, e por isso, esperança. Valia à pena, amar pra não perdoar. Tentar desesperadamente esquecer e fracassar miseravelmente na tentativa, só pra saber que se ama. Descobriu, no entanto, que era muito dele, tudo isso que o fazia viver. As horas em que ele odeia, no entanto, ainda virão. As noites voltarão a ser longas. Mas há dia entre duas noites. Frações de segundos de luz por vezes. Mas a luz é absoluta na sua fugacidade. Acordou já no amanhã. Feliz em poder dizer que amanheceu mas que, sem a noite, o amanhã ainda seria o mesmo dia. Levantou da cama e pôs roupas novas. Ia à luta. Uma vez mais.</div>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com17tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-6401209570077979632010-05-23T03:00:00.005-03:002010-05-23T19:42:52.183-03:00um breve exemplo de texto ficcional<a href="http://images.rottentomatoes.com/images/movie/gallery/1138943/photo_12.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; CURSOR: hand; HEIGHT: 267px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://images.rottentomatoes.com/images/movie/gallery/1138943/photo_12.jpg" border="0" /></a> - <em>I cant take my eyes of you.</em><br /><em>-from now on, I am your eyes. </em><br /><div align="justify"></div><div align="justify">Uma porta de ônibus se abre. Paro e, por algo não mais importante que uma questão de hábito, levanto o olhar àquele automóvel notavelmente comprido. E foi o que bastou. Um mero gesto habitual, descuidado, desinteressado e uma vida inteira desgraçava-se maravilhosamente naquele instante. Bastou o meu olhar desatento. Bastou o seu andar absurdo. O gesto incomparável. Bastou a presença que já não podia ignorar.<br />Foram segundos somente, um descer de escadas. Um atravessar de rua. Um encontro de olhar. Sim, o encontro de olhar. Dois pares de olhos muito mais antigos que os corpos que os carregavam. Encontraram-se e souberam que já se conheciam. Encontraram-se e realizaram que já sabiam do encontro. Encontraram-se e sabiam que já não era a primeira vez. Havíam apenas esquecido. Parei. Paramos. Olhei. Olhamo-nos. Reconhecemo-nos, sem saber disso. Atribuímos a sensação de dèja-vu à mera atração, como fazem todos os amantes.<br />A certeza veio. Já inoperante era eu . Todos os meus sentidos, eu percebi, canalizaram-se para a percepção da pessoa à minha frente. Nunca mais eu serei capaz de tirar os olhos de você. E eu soube. Soube que o fatídico dia, que chega para todos me havia atingido. Sempre desacreditado por mim, sempre irreal. Agora me acontecia. A certeza daquele momento foi absoluta. O sem-palavras do meu vocabulário foi imbatível. Eu não tive a menor chance. Derrubamos a mim, o grande rei de mim mesmo. Nunca mais meu próprio senhor. Derrubamos e acabou. Começou o para sempre. Outra vez. </div>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-72432909997167596332010-05-10T00:42:00.003-03:002010-05-10T12:13:26.860-03:00and all that Jazz<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://newsof.files.wordpress.com/2009/03/chicago.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 269px; height: 340px;" src="http://newsof.files.wordpress.com/2009/03/chicago.jpg" alt="" border="0" /></a>
<br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://blogwaybaby.com/All%20That%20Jazz.jpg"><img style="display: block; margin: 0px auto 10px; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 300px;" src="http://blogwaybaby.com/All%20That%20Jazz.jpg" alt="" border="0" /></a>
<br /><meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 12"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 12"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CUsers%5CRICARTE%5CAppData%5CLocal%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><link rel="themeData" href="file:///C:%5CUsers%5CRICARTE%5CAppData%5CLocal%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_themedata.thmx"><link rel="colorSchemeMapping" href="file:///C:%5CUsers%5CRICARTE%5CAppData%5CLocal%5CTemp%5Cmsohtmlclip1%5C01%5Cclip_colorschememapping.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:trackmoves/> <w:trackformatting/> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> 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Por que não pintamos a cidade esta noite?<o:p></o:p></i></p> <p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">Começamos pelo sete. A fome mostrou-se de tal maneira insaciável que a própria cidade não foi mais que um aperitivo ao nosso apetite por pinturas. Coisa de artista. Coisa de homem. Coisa de mulher. Casas noturnas, gins gelados, pianos quentes, e todo aquele jazz. Ah, mas que jazz era aquele? Algo como nunca se viu. Sons como que sussurros que, furtivamente, adentravam meus ouvidos e domavam com selvageria minha total consciência. O jazz enlouquecia com uma cadência própria e <i style="">quase</i> carinhosa, e então era só brusquidão, ritmo, frenesi. O jazz entrou. Noite <i style="">à dentro</i>, noite <i style="">a fora</i>. E de novo, e de novo. Ninguém nunca cansa do jazz. E foram joelhos vermelhos. Meias pelo chão. Abraços em conhecidos, pequenos e grandes abraços, tal qual coelhos. Houveram também aspirinas para quem não agüentasse tanto Jazz. Achas que precisaria de uma? Oh, o jazz levou-nos até os céus, tal qual melodia adorada por <i style="">todo</i> ser vivente nessa terra, que é. As estrelas nos tocavam deliciosamente e todo o burburinho calou, nós nunca havíamos voado tão alto. Afinal, quem liga pra burburinhos quando <i style="">todo esse jazz </i>te levou à estratosfera? Mães iriam parir de novo de desgosto se soubessem que suas lindas princesinhas vão ao delírio com todo esse jazz. E fomos ao delírio. A melodia e o ritmo tão somente melhoravam com o decorrer da musica, e tudo acelerava, tudo correu para o gran finale. E ele chegou, numa nota estrondosa, vibrante, ensurdecedora, mas impossivelmente afinada. Ops! Foi hora de nos vestirmos, tirarmos os joelhos vermelhos do chão, e sair discretamente daquele banheiro sujo. Adentramos atordoados ao salão barulhento. Apesar das vozes, berros, disputas de cartas, o jazz estava lá, sendo tocado primorosamente. O Jazz não acaba, o jazz não morre. Não enquanto durar essa gente suja. Não enquanto formos todos nada mais que essa gente. Não enquanto formos todos nada mais que sujeira pura. Porque essa gente simplesmente não consegue parar <i style="">todo esse jazz</i>. </p> Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-11698030299159346962010-05-05T12:22:00.006-03:002010-05-05T12:45:19.292-03:00Na verdade, não há<a href="http://img.olhares.com/data/big/105/1052546.jpg"><img style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 424px; CURSOR: hand; HEIGHT: 323px; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://img.olhares.com/data/big/105/1052546.jpg" border="0" /></a><br /><div><br /><br /><p align="justify"><em>é preciso amar,</em><br />Porque para um pai não há preciosidade ou tesouro no mundo que valha a felicidade de um rebento. Porque a namorada achou que era hora de se entregar, e o namorado mostrou que era digno de receber. Porque a gravidade é o cupido que une a chuva à terra, e porque qualquer amor gera frutos. Vapor, que seja. Porque o ódio que nasce está fadado ao fracasso. Ninguém odeia para sempre. Porque era tanta escuridão que teus olhos, ainda que negros como o breu, me trouxeram luz. Porque às vezes você quer arrancar a pele, quer enlouquecer de dor. Porque as vezes dói muito mais do que se pode suportar e porque as vezes dor é tudo que se quer. Porque não precisa ser para sempre. Porque um nanosegundo basta, às vezes; porque noutras uma eternidade é corriqueira, pra tanta coisa. Porque só se sabe. Porque só se tem. Porque não se tem.<br /><br /><em>como se não houvesse amanhã,</em><br />Porque às vezes você sangra só para saber que ainda vive. Porque olhos abertos não são garantia. Porque é inebriante a certeza de que o que você faz é respirar e não absorver oxigênio. Porque geralmente você precisa de ar. Porque noutras ocasiões falta de ar é o que te supre. Porque a vida devia ser igual aos filmes. Porque às vezes ela é. Porque SEMPRE só depende de você. Porque maio demorou demais para chegar. Porque a saudade da espera me mata. Porque quando chega a hora, e nada acontece eu vejo que a graça estava no caminho. Porque a pressa da chegada te traz arrependimentos. Porque se arrepender significa que tentaste. Porque no fim, não importou se eu usei só tu ou só você. Porque hoje eu não sou o eu, nem o nós. Hoje eu sou tu, hoje eu sou ele, hoje sou eles. O Estranho pra mim. Estranho a mim mesmo. Por que o precipício tende a ser a minha casa. Porque a minha casa tende a ser o precipício. Porque eu tenho medo de escolher. E o medo é a minha escolha. Porque medo é combustível. Porque essa combinação é explosiva. Porque explosões colorem o céu de vermelho. e por que o agonizar da fumaça me abre olhos. É preciso respirar.<br /><br /><em>na verdade, não há,<br /></em>Abriu os olhos e viu. A música de nós dois enjoa, o para sempre sufoca. O amanhã não o preocupa. Não há ninguém ao lado, na cama. Não há mensagens. Ele também não precisa de alguém ao lado na cama, não agora. Mensagens só ocupam espaço. Outras mensagens virão. Outras camas também. O amor não foi eterno. Não foi inverdade, tampouco. Dias coloridos não são alegres. A chuva refresca. O beijo não teve sino. A foto envelheceu e grudou no porta-retrato.Tirará outra. Não há trilha sonora. O coração sofre ao som de música ruim, não há notas românticas. O inesquecível fui eu que fiz. E fui eu que te esqueci. Nem tudo sai como nos filmes. Aquele filme fizeram para mim. Não corra no meio da rua, se não for preciso. Jogue-se do Aconcágua se lá embaixo estiver seu coração. Meu coração. Olhos e poças d’água. Diferença? Acho que não. Transportam o céu para o chão. Relaxe. Se o coração parou de bater porque já o fez. Voltará a fazê-lo. Vamos fazer história? Sim, todo dia é dia de glória se você quiser. O mundo não acabou, o amanhã virá, o amanhã aqui está; Na verdade viva, na verdade xingue, grite, morra de amor, de dor, de cansaço, desista, persista. Na verdade chore, ria. Na verdade não se importe. Na verdade viva o amanhã hoje, porque, na verdade, <strong>o amanhã não há</strong>. </p></div>Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-2938924546246544493.post-37260990758816690262010-05-01T12:02:00.002-03:002010-05-01T12:07:36.211-03:00#thepursuitofperfection<a href="http://cinemacomrapadura.com.br/noticias/img/4449-2006-11-09-17:28:40_1.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 337px; height: 500px;" src="http://cinemacomrapadura.com.br/noticias/img/4449-2006-11-09-17:28:40_1.jpg" border="0" alt="" /></a><br /><br />E se a perfeição não é desumana, no fim das contas? E se nós é que culpamos a natureza humana por nossas próprias falhas, absolutamente evitáveis? Bem, algumas cobranças recentes têm-me levado a acreditar nisso. Olhe ao redor. Quantas pessoas exigem, demandam aos berros que você não cometa falhas, quantas pessoas se indignam e se surpreendem com a sua imperfeição? Como se ser perfeito fosse a única conduta óbvia para você. Quanta gente ao seu redor reclama, julga, lhe inutiliza verbalmente por um simples e compreensível erro seu? Todas. Mas desculpe-me, eu é que sou condescendente demais com a raça dos homens. O erro nunca é simples, nunca é compreensível. No fim das contas você mesmo já se decepcionou, berrou, e julgou o erro de outros. E, talvez, seja daí que tenha surgido a imperfeição humana, o erro primordial, um único só, que desencadeou todas as outras imperfeições: o erro de não aceitar o erro do próximo. O erro de esquecer que somos todos incompletos, mas que um dia fomos inteiros, em comunhão, quando um simplesmente cobria o erro do próximo, quando um completava o irmão ao lado. <br />Bobagem. Em inglês, bullshit. Desculpem-me. Ocorre-me agora que esse sistema ideal, jamais existiu. Nós nunca contamos com o erro e nunca contaremos. Nivelamos sempre por cima, sempre esperando nada mais que a perfeição. Condutas corretas com o próximo, ajudar quem precisa, se esforçar para não ter uma mente medíocre, priorizar outras vontades além de sua, saber dividir o pouco que se tem com o mundo de gente ao redor, nada disso importa na verdade, nada disso é suficiente e vale a pena. Porque o mundo de hoje, me desculpem a franqueza, o pessimismo ou o péssimo realismo, exige resultados, e lucro, dinheiro. Para quê importam as pessoas, para que preocupar-se com o que você diz e com a maneira com a qual você fala com seu filho, amigo, irmão, namorado, vizinho? Se ele não dá os resultados que você espera, de que você necessita?<br />Embora saiba que muitos tomarão por pedantismo, desculpem-me os bons, mas eu mesmo estou agora a perseguir a perfeição. Uma vez tendo eu a intenção de sobreviver nesse mundo de cão e de algum dia possuir algo para chamar de meu, só me resta render-me à esse sistema de resultados exigidos imediatamente, em que a demanda mínima é a perfeição humana. Só me resta aceitar, se eu quiser sobreviver, a idéia de que a perfeição é humana e está ao meu alcance e de que no fim, eu estou sempre por minha conta e risco. Bem, fiquem acompanhando, o mundo pediu e eu atenderei. Perfeição, aqui vou eu. Pelo menos eu ainda não preciso me tornar divino. #medo.Lucashttp://www.blogger.com/profile/00220094554141113681noreply@blogger.com12