Dreams are renewable. No matter what our age or condition, there are still untapped possibilities within us and new beauty waiting to be born.

-Dale Turner-

terça-feira, 6 de julho de 2010

O jardineiro


Ele: Eu gostaria de ir embora, por favor.
Ela: Não, ainda é cedo. Te quero comigo.
Ele: Não há nada que eu queira mais do que passar a eternidade neste quarto, acredite. Mas não posso querer isso, não devo.
Ela: Claro que pode, é tão bom.
Ele: é bom, mas é macabro. É delicioso, mas torturante.
Ela: Não para mim, nunca fui mais feliz.
Ele: Eu achei que bastasse, mas nem. Me chame de egoísta, mas meu amor por ti te quer só para mim. Qualquer outra opção é insuficiente, amarga. Não se preocupe, amo-te bem mais que a qualquer outra em minha vida. Mas não suporto mais, a angústia da eterna pergunta que me faço a todo o momento. Estou entre os teus pensamentos, ao menos às vezes?
Ela: às vezes, sim. Mas tenho andado muito ocupada.
Ele: Não te cobro nada. Nem ouso dizer que te esqueci, que vou prosseguir sozinho, porque não vou. Não posso. Não consigo. Te amo a cada dia de uma outra maneira e cada nova maneira traz um aspecto novo de ti pelo qual me encantar. Te preciso aqui desesperadamente agora, mas não precisa ficar. Aliás, não fique. Não posso mais conviver com esse meio-amor desavergonhado que me propões. Não te quero, não te posso pela metade.
Ela: Eu não posso te dar mais. É tudo o que eu tenho. E Não acredito em ti, não és capaz de deixar de me amar.
Ele: Não estás me ouvindo? Não tenho essa pretensão, já vai longe o dia em que me tornei refém desse sentimento. Já tentei não te ligar, mas perdi o controle. Porque sempre te preciso agora. Nunca te tenho, porém. Não ligue pra mim. Estou um tanto bêbado, mas não esqueço que tiveste teu tempo pra escolher. E eu? Já não tenho nada a perder. Te amo, mas não te tenho. Tirar-te da minha vida não fará assim tanta diferença. Teu amor finge, e se orgulha. Mas jamais me enganaste. É só que, me bastava ter-te em ilusão, ter-te em mentirinha. Era só que te ter era meu oxigênio, te ter amando-me não me pareceu tão mais crucial que ar puro.Todos os dias respiramos em poluição, mas vivemos . Agora? Não, não pense que o amor diminuiu. É só que é grande demais para caber na tua mentira. É cruel demais comigo ignorar esse grito de dor constante.
Ela: Sinto muito. Não posso mentir para mim como menti para ti. Não sei trair-me assim.
Ele : Eu sei que não, estás certa. Seja feliz. Preciso disso. E não te esqueças, eu te amo, como sempre e estarei aqui pro caso de me quereres por inteiro. Esse amor, dói saber, poderia ser para sempre. As rosas também, mas alguém quis que logo morressem. Assim como quiseram o teu amor por mim.
Ele levantou-se da cama, e encarou-a pela primeira vez desde o início da conversa. Ela pegava uma bebida do frigobar. A última lágrima caiu, ritualística, no assoalho de carpete do quarto. Deixara uma mancha pequena. Não se preocupou, a mancha secaria dentro em breve. Ele vestiu-se enquanto ela tomava banho. Uma resignação nova o açoitava em direção a um novo rumo. Pagou a conta antes de ir, e deixou o quarto sem dizer adeus.
Andando no caminho para casa, observou um jardineiro displicente cuidar de um jardim. Plantava uma nova e linda muda de lírios, à qual regava com fartura. Ao lado, uma roseira morria de sede. Seca. Triste. Só. Esquecida. Ao chegar em casa, foi direto ao jardim. Ia plantar uma roseira.

12 comentários:

camiLamoRim. disse...

Dessa vez, tu quem escreveu minha história. LINDO! Além de olhinhos cheios d'água -e cheios de páginas [quase] viradas-, sem mais no momento.

Amanda Arrais disse...

Esse texto vai ter que entrar pra competição com aquele outro que eu havia dito ser meu preferido!

"Não, não pense que o amor diminuiu. É só que é grande demais para caber na tua mentira."

LINDO.

Acho que nunca senti algo parecido, mas ainda assim consegui sentir a dor do 'Ele' e a verdade de cada palavra.

Lindo como sempre e um pouco mais.

=*

Lucas disse...

lindos são os comentários de vocês meninas +O
brigaaado
=*

Unknown disse...

Perfeito!Estou sem palavras...sinto a dor dele em mim.
Tuas palavras,me fazem pensar em tudoo.Como eu disse, estou sem palavras.
Lindoooo

Daniel Formiga disse...

Lindo texto, como já afirmado. Fugiu um pouco do costume, mas continua emocionante.

Guilherme Freire disse...

E ele foi regar uma rosa. Não que eu não seja romântico, mas metáforas de fênomenos naturais dificilmente me tocam. Pra mim uma flor morta é apenas uma flor morta, sem o sentimento que lhe empregam. Me lembrei da cena de um filme, cujo nome não lembro, em que uma mulher, querendo demonstrar a dor de sua paixão num bar, pega um alfinete, desses de fralda, e perfura sua buchecha delicadamente, de um lado ao outro. Lembro que senti bastante a dor dela.
Parabéns pelo texto: se cada ex-amantes regar uma flor, teremos um jardim bem bonito... Eu então, que jardim belo apresentaria, hahahaha.

Beijos
Guilherme

Teresa Moraes disse...

que lindo Lucas *-*

José Samuel de Melo Neto disse...

Guilherme não me engana...
SHAUSHAUSHAUSHAUSHAUSHAUSHAUSHA

Lucas, nem tenho palavras; mais uma obra prima.

Thalita Lobato disse...

muito lindo o texto, me fez lembrar uma certa situação na minha vida, como tu tens a capacidade de tocar e descrever em textos um pouco da vida de cada um ? perfeitamente brilhante esse texto , gostei muito ;)

Polly disse...

"Te amo a cada dia de uma outra maneira e cada nova maneira traz um aspecto novo de ti pelo qual me encantar"

Acho que muitas pessoas estão por aí como roseiras secas e solitárias, esperando alguém que as regue. Mas o fato de estarem secas, não quer dizer que não tenham grande beleza e amor para mostrar.
Muito lindo seu texto.
Fui =*

Anônimo disse...

Dá pra sentir o cheiro desse lugar, de tão envolvente que é a narrativa! Te dar parabéns já é trivial? hehe
Abraço

Guilherme Freire disse...

Só hoje, 9 meses depois, eu fui realmente entender esse texto.