Dreams are renewable. No matter what our age or condition, there are still untapped possibilities within us and new beauty waiting to be born.

-Dale Turner-

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Sobre seres e pareceres

Não, ele não tem boa sorte. Poucas coisas dão certo pra ele e as mãos em sua vida nada têm de beijadas. Antes, estapeiam-no. Aquele garoto também não tem a menor ideia do que fazer. Colecionador obsessivo de incertezas e um destemido nato na hora de perder a fé. Ele não sorri o tempo todo e sua vida, certamente, não é uma festa. Não vai a tapetes vermelhos, nem é popular. Ele não tem lá muito dinheiro, e também não se importa nenhum pouco com o seu. Aquele garoto também não acha a juventude tão melhor assim e não sabe de onde você tirou que ele um dia quis ser você
Mas aquele garoto não precisa da sua boa sorte. Ele desdenha da sua pretensa popularidade e não deseja viver agonia da sua felicidade constante e atestada. Ele prefere a segurança do atestado de gente. De ser real. De poder sentir a tristeza livre do pânico. Porque solidão é bom. Solidão é você. Ele deseja, sim, um atestado que não se exibe, um atestado que se é. Silencioso. Particular. Real. Seu. Aquele garoto não tem uma fé inabalável, ele cai, e desiste. Só o que lhe é inabalável é a certeza de que cair significa ter que levantar e começar de novo. Um cair é sempre uma chance para levantar de novo. E, quem sabe, desta vez ele possa levantar sem cair de novo. Um levantar permanente, experiente, sofrido.
Aquele garoto não precisa da sua atenção. Ele não passa pela vida fazendo desesperados check-in’s, buscando uma celebridade ausente de mérito pra esquecer da ordinariedade que enxerga em si mesmo. Ele chama atenção, mas chama por ser. Com o parecer ele já não está mais tão preocupado. As gargalhadas dele não são as mais altas e o álcool não lhe é terapia. Fala do que é por ser de sua natureza o manifesto. O discurso. O transbordar. A plateia lhe é dispensável. Ele prefere a pessoa.
Não, ele não é do tipo que fala porque precisa ser ouvido. Antes, fala por que quer se ouvir. Quer se sentir real, materializado. Quer sentir-se objetivo, ao menos uma vez. A verdade é que só lhe é possível ser se for sozinho. Sim, no mundo que ele desenhou a solidão e a alforria nasceram do mesmo ventre. Só na solidão é que realmente se é, somente livre do necessário agradar de opiniões é que pode despir-se do que não é. Por melhor ator que ele seja, anda cansado das fantasias quilométricas que carrega. Anda cansado de carnavais espirituais. Anda farto das pessoas que só aturam o feliz. Cansado de todos esses sorrisos pavorosos que já não conseguem mais se desfazer. Uma tragicomédia apavorante em que se prendeu o mundo em que esse garoto vive. A alegria ostentada não o inspira. Assusta. O humor é plástico e vazio por isso o repele. Os destinos, previamente projetados, sufocam. Por isso não se incomode com ele. Deixe-o em paz que para ele já será o suficiente. Ele não é nada como você. Ele é.

1 comentários:

Amanda disse...

"Não, ele não é do tipo que fala porque precisa ser ouvido. Antes, fala por que quer se ouvir. Quer se sentir real, materializado. Quer sentir-se objetivo, ao menos uma vez. A verdade é que só lhe é possível ser se for sozinho. Sim, no mundo que ele desenhou a solidão e a alforria nasceram do mesmo ventre."

Esse último parágrafo aí já valeu o texto inteiro. Me encontrei tanto... Talvez "ele" seja um pouco como eu.
Nem digo mais parabéns pra ti...
Mentira: parabéns!

=*