Dreams are renewable. No matter what our age or condition, there are still untapped possibilities within us and new beauty waiting to be born.

-Dale Turner-

domingo, 6 de novembro de 2011

Dúvida


Você pensaria que eu sou um chorão. Que eu sou um melodramático clássico a quem as lágrimas vêm com facilidade. Mas não é verdade. Bem, eu sou, de fato, melodramático. Talvez até mais. Acho que beiro o masoquismo patológico. Mas não eu não choro. Há anos que já não consigo.  O engraçado disso, no entanto, é que, se você perguntar a quem quer que tenha convivido o suficiente comigo nos últimos anos, poderá ouvir o testemunho de um número considerável de pessoas que alegarão terem me visto derramar lágrimas por já uma dezena de vezes. Mas aprendi, durante esses anos em que pude viver sozinho nesse mundo, há uma antonímia negligenciada pelos comuns bem aí, entre as lágrimas e o chorar. Derramei lágrimas sim, mas não de dor. Lágrimas pelo hábito. Lágrimas pra me sentir humano, me sentir parte de alguma coisa. Da multidão lacrimosa tão em voga hoje em dia. A lágrima meme. Lagrimas pra me sentir comum, incluído, e ter certeza de que era capaz, ainda, de reagir como homem normal. Enfim, lagrimas fingidas. Não é que eu não tenha sentido dor, veja bem. Experimentei dores nos últimos anos ante as quais me vi partindo ao meio, a ponto de cultivar sérias dúvidas sobre se seria eu capaz de me recompor. Mas quando doeu de verdade as lágrimas não vieram. Dor além das lágrimas. Dor que lágrimas não podiam traduzir. Dor tão grande e independente que esnoba, dispensa a natural subserviência de suas criadas naturais, lágrimas.  Transbordo mas não sinto dor, não a minha, pelo menos. Sim, pude chorar de verdade, mas pela arte, pela dor alheia, pelo que não me pertence. A emoção represada em meus olhos não é a minha. A minha dor, a minha gigantesca dor não me comove. Bem que sempre me disseram que tamanho não é documento. A minha dor não é digna da manifestação natural das lágrimas. A minha dor me deixa em dúvida na verdade. Não consigo entender se é ela tão grande que as lágrimas tornam-se um adereço fútil e desnecessário, ou se decepcionei a mim tantas vezes que esta minha dor já não me comove, anda desacreditada, mais irreal que as dores de Hollywood. E, ainda, pergunto-me se as duas coisas não seriam a mesma. 

1 comentários:

Anônimo disse...

Lukito.... Sabe q hj eu me pergunto o q me aconteceu... Pq. Não choro?! Cresci ou endureci????? As dores nos dão calos. O sofrimento nos causam dores... Mas, dores seguidas nos faz procurar "remédios" certeiros e ate a previni-las, mas, jamais nos tiram a sensibilidade!

Bjs c lagrimas de orgulho!
Tio Rivanio